Como os processos de medicalização respondem às políticas públicas e avaliações externas: um olhar a partir do discurso de uma escola de alto IDEB

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Garcia, Amanda Trindade [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/181667
Resumo: O aprendizado da linguagem escrita tem sido um desafio na educação brasileira apontado nos dados e resultados de avaliações e índices educacionais, a exemplo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Nesse cenário, figura como agravante a medicalização da educação, com a atribuição equivocada de rótulos de “doenças do não aprender” aos alunos em processo de apropriação da linguagem escrita e com a transformação de questões sociais em questões individuais, o que resulta na biologização da educação e contribui para o fracasso escolar. Tal desafio articulado com essa medicalização da educação implica a necessidade de se voltar ao interior da escola, revendo também, dentre outros aspectos, a formação e prática docente precarizadas. Subsidiada por essas ideias, essa pesquisa tem como questões de pesquisa: a escola com o maior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) tem alguma relação com a quantidade de crianças consideradas por seus professores como aquelas que apresentam “doenças do não aprender”? O IDEB alto influencia a adoção, por parte do professor, de práticas medicalizadoras, a exemplo da identificação, equivocada, de crianças com “doenças de não aprender”? Essas crianças se relacionam de modo negativo com a escrita, incorporando o sentimento de incapacidade? Frente a esses questionamentos, a pesquisa foi empreendida com o objetivo de compreender de que modo o discurso medicalizante de uma escola estadual de ensino fundamental de alto IDEB repercute no processo educacional de crianças de uma sala de 3º ano e desvelar a relação desse discurso com as políticas públicas e avaliações externas. A geração de dados ocorreu mediante as situações dialógicas com os seis protagonistas da pesquisa, registradas em áudio e, narrativas registradas em diário de campo durante situações observadas. A análise dos dados privilegiou os enunciados quanto ao conteúdo e contexto de enunciação, subsidiada pelos pressupostos bakhtinianos e da teoria histórico-cultural. Os dados gerados indiciaram cinco eixos de análise, a saber: “Atribuição de rótulos negativos às crianças e a incorporação do sentimento de incapacidade na contramão da constituição de sujeitos”, que diz respeito a atribuição equivocada de rótulos negativos em crianças no processo de apropriação da linguagem escrita; “Formação docente e prática pedagógica medicalizante: em busca de uma educação com sentido”, que descreve sobre as práticas pedagógicas mecânicas encontradas em sala de aula e como os professores trabalham a linguagem; “Ato responsável: quem assume?”, que caracteriza a abstenção dos educadores de sua responsabilidade; “Processo de medicalização da educação ao longo da história: o que a escola tem a dizer”, com a descrição do caminho da medicalização da educação que culmina na prescrição de remédios e tratamentos e as suas consequências; e, por fim, “As avaliações externas e as políticas de estado: um conceito de qualidade e a cobrança do ensino em questão”, que trata das influências dos processos avaliativos e seus índices nas práticas pedagógicas em sala de aula. Os dados desvelaram que a atribuição de rótulos negativos às crianças em processo de apropriação da linguagem escrita contribui para a incorporação, por parte dessas crianças, de um sentimento de incapacidade, o que resulta em uma relação negativa com esse aprendizado. Atrelada a isso, está a formação docente precarizada que propicia, em sala de aula, práticas pedagógicas medicalizantes pautada no ensino mecanicista com atividades de repetição e cópia. Nessa problemática encontrada em sala de aula, ninguém assume a responsabilidade, deslocando-a para outras pessoas ou instâncias. A medicalização da educação pode, em alguns casos, desencadear na prescrição, por parte de profissionais da saúde, de remédios e tratamentos da área da medicina.