Necessidades de saúde de mulheres que fazem sexo com mulheres e acesso a serviços de saúde

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Freitas, Ana Paula Freneda de [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/150404
Resumo: Introdução: Acesso e acolhimento são elementos essenciais para que se possa intervir de forma satisfatória no estado de saúde da população. A literatura nacional traz poucos estudos abordando o acesso aos serviços e cuidado com a saúde entre mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM). Objetivo: Analisar o acesso a serviços de saúde e o cuidado com a saúde sexual e reprodutiva de mulheres que fazem sexo com mulheres, sob o enfoque das políticas públicas de saúde. Método: Estudo observacional, transversal, descritivo e analítico que integra estudo mais amplo sobre acesso a serviços de saúde e saúde sexual e reprodutiva de MSM. A amostra intencional de 149 MSM foi constituída por meio da Técnica de Amostragem Bola de Neve (a Andreia pediu para retirar, acho melhor manter) indicação de profissionais de saúde e liderança LGBT (de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) por procura espontânea, a partir da divulgação do projeto nas redes de sociabilidade, comunicação de massa, serviços de saúde e grupos de ativismo. As variáveis estudadas foram: sociodemográficas, consumo de substâncias, comportamento e práticas sexuais, clínico-ginecológicas e reprodutivas, relacionadas ao acesso a serviços de saúde e a variável desfecho foi escore de cuidado com a saúde sexual e reprodutiva. Os dados foram obtidos pelas pesquisadoras envolvidas no estudo mãe, de janeiro de 2015 a dezembro de 2016, por meio da aplicação de um questionário, exame ginecológico para o diagnóstico de HPV (Papiloma Vírus Humano), Chlamydia Trachomatis, Neisseria Gonorrhoeae e Trichomonas Vaginalis e coleta de sangue periférico para diagnóstico das infecções pelo HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), Vírus da Hepatite B, e Sífilis. Para análise dos dados empregou-se a estatística descritiva e as associações foram verificadas pelo teste de Qui Quadrado, por meio de ajustes de modelos de regressão linear, com resposta normal e de regressão linear múltipla. Resultados: Predominaram as mulheres brancas (74,5%), não unidas (73,2%), que tinham atividade remunerada (73,2%), alguma religião (74,5%) e com oito anos e mais de estudo concluídos (96,0%). A mediana de idade foi de 27 anos (18-62) e a renda familiar per capita de R$1.000,00 (133,33-15.000,00). A maioria tinha histórico de relacionamento sexual com homens durante a vida (74,2%) e, no último ano, apenas com mulheres (77,2%). A maioria utilizava o serviço público de saúde (84,0%), procurava Unidades Básicas de saúde (70,5%) e pronto-socorro (67,8%), somente quando adoeciam/sentiam algum desconforto (70,0%) e 47,6% não revelavam a prática sexual com mulheres para os profissionais de saúde. As dificuldades/barreiras encontradas na procura por serviços de saúde e/ou no atendimento dos profissionais e/ou à satisfação de necessidades pelos serviços foram relatadas por 77 (51,7%) mulheres, sendo que 66,1% delas relacionaram-se à estrutura e organização dos serviços de saúde e 33,9% à relação profissional de saúde-usuário. A mediana do escore de cuidado com a saúde sexual e reprodutiva foi de 4 pontos (0-7), tendo em vista que este poderia variar de 0-8 pontos. A maioria das mulheres não realizava atendimento ginecológico anual (54,4%), não estava com a Citologia Oncótica em dia (63,1%), tinha relação sexual após o consumo de álcool e/ou drogas ilícitas (71,8%), não utilizava preservativo nas relações sexuais anais e vaginais (87,9%), e tinha diagnóstico de alguma IST( Infecção Sexualmente Transmissível) (51,7%) e, 47,0% não havia realizado sorologia para IST/aids. A maioria das mulheres era tabagista (55,0%) e 34,9% utilizavam drogas ilícitas. As variáveis independentemente associadas ao escore de cuidado com a saúde sexual e reprodutiva foram idade, utilização de tabaco, de drogas ilícitas, ter se relacionado sexualmente com seis ou mais mulheres na vida, relação sexual após uso de álcool e/ou drogas ilícitas e uso de preservativo em todas as relações sexuais anais e vaginais. Não houve associação entre ter ou não histórico de relação sexual com homens na vida ao escore de cuidado. Diante dos resultados obtidos na presente investigação realizou-se duas oficinas de sensibilização dirigidas aos profissionais de saúde de todas as categorias, atuantes na Atenção Básica do município de Botucatu. Estas tiveram por objetivo a sensibilização dos profissionais sobre as necessidades de saúde de MSM e proporcionar reflexão referente as suas práticas em relação a esse grupo. Foram propostas várias estratégias pelos participantes como: educação permanente de todos os profissionais e educação em saúde voltada à população em geral, acerca desta temática, revisão de instrumentos de sistematização, utilizados na assistência, que favoreçam a revelação da prática sexual com mulher e organização e distribuição de material educativo sobre cuidado com a saúde para MSM, dentre outras. Conclusão: Apesar de a maioria das MSM terem acesso aos serviços de saúde, apresentaram muitas lacunas no cuidado com a saúde sexual e reprodutiva, apontando para vulnerabilidade individual, social e programática às IST, comprovada pela elevada prevalência desses agravos. Necessidades de saúde específicas deste grupo podem deixar de estar sendo identificadas e abordadas pelos profissionais de saúde, uma vez que grande parte delas não revelou a prática sexual com mulher. Desta forma, o presente estudo vem contribuir para o planejamento de ações mais abrangentes, voltadas à promoção da saúde integral de mulheres que fazem sexo com mulheres, à medida que aponta contexto de vulnerabilidade e de necessidades, relativas à saúde sexual e reprodutiva de mulheres, residentes no interior do Estado de São Paulo.