Vulnerabilidade de mulheres que fazem sexo com mulheres às infecções sexualmente transmissíveis

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Andrade, Juliane [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/151827
Resumo: Introdução: Vulnerabilidade é a possibilidade de a pessoa se expor ao adoecimento, considerando-se fatores individuais e coletivos, dividindo-se em três dimensões analíticas articuladas: a individual, a social e a programática. Em mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) a vulnerabilidade às infecções sexualmente transmissíveis (IST) perpassa por questões de luta por visibilidade social e política, diferença de gênero, padrão heteronormativo, despreparo profissional e o próprio desconhecimento sobre questões relativas à prevenção das IST/aids, ainda pouco estudadas no cenário nacional. Objetivo: Analisar a vulnerabilidade de mulheres que fazem sexo com mulheres às IST/aids. Método: Estudo transversal que integra estudo mais amplo sobre acesso a serviços de saúde e saúde sexual e reprodutiva de MSM. A amostra de 150 MSM residentes no interior Paulista foi constituída por meio da técnica de amostragem Bola de Neve, indicação de profissionais de saúde e liderança LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e por procura espontânea, a partir da divulgação do projeto nas redes de sociabilidade, comunicação de massa, serviços de saúde e grupos de ativismo. As variáveis estudadas foram classificadas mediante o referencial teórico da vulnerabilidade. Os dados foram obtidos de janeiro de 2015 a março de 2017, por meio da aplicação de questionário, exame ginecológico e coleta de sangue periférico. Para o diagnóstico das infecções pelo papiloma vírus humano, Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae empregou-se a reação em cadeia da polimerase, para confirmação do HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), os testes ELISA e Western Blot, para Hepatite B o ensaio ARCHITECT HBsAg. Para sífilis foi considerado resultado reagente a mulher que teve teste treponêmico e VDRL reagente ou os dois treponêmicos positivos, sem história de tratamento prévio adequado. A identificação do Trichomonas vaginalis se deu a partir da coloração de Papanicolaou. Para análise dos dados foi empregada a estatística descritiva e as associações foram verificadas por regressão logística múltipla e as comparações do escore de vulnerabilidade entre mulheres com e sem histórico de relação sexual com homens foram feitas por meio do teste de Mann-Whitney. Resultados: A mediana de idade das MSM investigadas foi de 26 anos (18-62), 74,7% eram brancas, 73,3% não unidas, 51,3% tinham 12 ou mais anos de estudo concluídos, 74% estavam inseridas no mercado de trabalho e 50,7% tinham renda per capta familiar maior que R$ 1.019,00. A maioria tinha história de relacionamento sexual com homens durante a vida (74,7%), entretanto, nos últimos doze meses, apenas 21,3% se relacionaram com homens. O diagnóstico de alguma IST foi constatado em 47,3% das mulheres. A análise de regressão logística multivariada apontou apenas variáveis da dimensão individual independentemente associadas às IST/aids: não ter realizado sorologia para IST/aids [OR=2,80 (1,13 – 6,94); p=0,027], ter histórico de IST [OR=4,00 (1,03–15,50); p=0,045] e ter tido relação sexual com homem nos últimos 12 meses [OR=8,65 (2,39–31,38); p=0,001]. Segundo a estratégia de análise do grau de vulnerabilidade adotada, nenhuma mulher investigada estava isenta, sendo que a vulnerabilidade programática foi a que apresentou maior mediana do escore de vulnerabilidade, 9,6 pontos (0-24) e a social, a menor, 7,5 pontos (0-19). As mulheres com ou sem histórico de relação sexual com homens na vida não diferiram quanto ao escore de vulnerabilidade na dimensão social e programática e aquelas que se relacionaram com homens na vida apresentaram maior escore na dimensão individual [10,0 (4,0–17,0 vs. 8,0 (4,0–13,0); p= 0,001]. As MSM que tiveram relação com homem nos últimos 12 meses tiveram maior escore de vulnerabilidade individual e social em comparação com aquelas sem este histórico [12,0 (6,0–17,0) vs. 9,0 (4,0–15,0); p=0,000 e 10,0 (0,0–19,0) vs. 5,0 (0,0–14,0); p=0,042, respectivamente] e não apresentaram diferença quanto ao escore de vulnerabilidade programática. Conclusão: As MSM investigadas apresentavam elevada vulnerabilidade às IST/aids nas três dimensões, confirmada pela alta prevalência dessas infecções, sugerindo necessidade de atenção individualizada e qualificada, com vistas à sua redução. Assim, os dados da presente investigação podem proporcionar à Enfermagem e a outros profissionais de saúde elementos que facilitem a sistematização do cuidado a esse grupo populacional, permitindo intervenções que considerem as três dimensões da vulnerabilidade, implicando maior potencial de transformação do processo-saúde-doença.