Geossímbolos afrodiaspóricos: um estudo do Quilombo Afroguarany como patrimônio vivo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Sena, Luiz Vinícius Cardoso de [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11449/258225
Resumo: Desde a década de 1920, os movimentos negros brasileiros, com suas diversas pautas, trajetórias e regiões de atuação, utilizam a educação, a cultura e o aquilombamento como estratégias centrais na luta pela concretização dos ideais do quilombismo. Esse conceito, e movimento político e social, visa promover a resistência e a autorrepresentação das populações negras, entendendo os quilombos como as primeiras experiências de liberdade para os negros nas Américas. Na contemporaneidade, este debate se materializa na formação de quilombos culturais, que afirmam a disporá negra, promovendo identidades e ancestralidades, preservando práticas de resistência e fortalecendo as negritudes. Assim, o trabalho propõe um novo enfoque no estudo geográfico aos movimentos negros brasileiros, interligando as contribuições da Nova Geografia Cultural, que a partir de 1970, interpreta criticamente as imaterialidades e subjetividades dos espaços simbólicos, com as Geografias Negras, desenvolvidas nas últimas décadas para abordar as dimensões raciais do espaço sob uma perspectiva afrocentrada. Nesse contexto, as reflexões espaciais são ampliadas ao considerar as experiências negras por meio dos geossímbolos, entendidos como lugares, itinerários ou extensões que assumem dimensões simbólicas nos fortalecimentos identitários. Dessa forma, a pesquisa tem como o objetivo principal compreender o processo de aquilombamento cultural e seus lugares e atividades culturais como geossímbolos afrodiaspóricos, questionando-se os novos caminhos percorridos pelos negros na apropriação de espaços culturais por meio de elementos identitários. O estudo se concentra na Casa Amarela Quilombo Afroguarany, autodeclarada como a primeira ocupação artística quilombola do centro da cidade de São Paulo (SP, Brasil) e fundada em 2014. O imóvel ocupado é um casarão construído em 1926, tombado como patrimônio cultural municipal em 2006, que permaneceu por dez anos sem uso, restauração ou função social. Logo, este quilombo, além de ser um símbolo de resistência cultural, constitui-se como um patrimônio vivo, cuja suas dinamicidades são constantemente reconfiguradas por meio das práticas culturais. Metodologicamente, o trabalho utiliza a escrevivência como método de escrita científica que privilegia a subjetividade e a experiência pessoal do pesquisador, permitindo uma análise mais profunda das realidades vividas e proporcionando uma compreensão mais detalhada das práticas culturais observadas. Além disso, recorre-se à cartografia geossimbólica para espacializar e documentar as experiências, memórias e identidades durante o processo de ressignificação patrimonial. Os resultados indicam que o aquilombamento cultural na Casa Amarela se articula de maneira complexa e dinâmica, envolvendo tanto a preservação das memórias e identidades negras e indígenas quanto a criação de novos significados e usos para o patrimônio. A parceria com um estúdio de restauração demonstrou como a zeladoria patrimonial pode se alinhar com as Geografias Negras, fortalecendo a manutenção e o pertencimento dos geossímbolos afrodiaspóricos, o cuidado com o lugar ocupado, e assim, projetando futuros alternativos para o Quilombo Afroguarany. Dessa maneira, percebe-se que a apropriação e ressignificação de patrimônios nos movimentos negros, possibilita novos imaginários e práticas espaciais intrinsecamente ligadas à negritude e à sua continuidade no tempo e no espaço, desafiando as lógicas tradicionais e ampliando perspectivas que valorizam as vivências negras e as ressignificações dos espaços urbanos.