Atraso no diagnóstico do câncer: as razões podem começar na infância

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Silva, Bruna Amélia Moreira Sarafim. [UNESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: eng
Instituição de defesa: Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/11449/217701
Resumo: A demora no diagnóstico do câncer atrasa o início do tratamento e tem impacto adverso no prognóstico do paciente. Embora o trauma infantil seja uma realidade comum na vida dos indivíduos, a ciência de sua ocorrência e consequências ainda são negligenciados em portadores de doenças crônicas. Estudos de nossa equipe e outros têm mostrado evidências das consequências do trauma infantil sobre aspectos emocionais, comportamentais e clinicopatológicos em pacientes com câncer. No entanto, até o momento, não há estudos que avaliaram a associação do trauma na infância com o atraso para o diagnóstico do câncer. O objetivo da presente pesquisa foi avaliar, pela primeira vez, a relação entre a ocorrência de trauma infantil e o tempo de demora para o diagnóstico da doença em um grupo de pacientes com câncer de cabeça e pescoço (CCP). Neste estudo transversal, 111 pacientes com câncer de cabeça e pescoço foram avaliados quanto aos fatores preditores para o tempo prolongado do paciente procurar atendimento e de sua trajetória no sistema de saúde até o diagnóstico da doença. O ponto de corte para avaliação do atraso para o diagnóstico foi de 3 meses, considerando até 3 meses como menor atraso e mais de 3 meses como maior atraso. Dados demográficos, clinicopatológicos e comportamentais foram extraídos dos prontuários dos pacientes. O Questionário sobre Trauma na Infância (QUESI) foi utilizado para avaliar a ocorrência de trauma infantil. Análises de regressão múltipla foram usadas para avaliar a associação das variáveis demográficas, comportamentais e clinicopatológicas, bem como da ocorrência de trauma na Infância com tempo de demora para o diagnóstico de câncer. Os resultados mostraram que o tempo médio de demora para os pacientes com CCP procurarem atendimento após perceber o primeiro sinal da doença foi de 129,50 dias, e o tempo médio de atraso entre o paciente procurar o primeiro serviço de saúde após perceber o tumor e receber o diagnóstico definitivo de câncer foi 196,43 dias. A ocorrência de abuso físico na infância foi uma variável independente para maior demora do paciente em procurar o primeiro atendimento após ter percebido o primeiro sintoma de câncer (OR = 3,22, IC = 1,020-10,183, p = 0,046). Pacientes que tinham o tumor localizado na laringe (OR = 13,5, IC = 2,645-69,355, p = 0,002) e tinham histórico de abuso emocional na infância (OR = 6,7, IC = 1,974-23,293, p = 0,002) eram mais propensos a terem um tempo maior que 3 meses entre a primeira consulta em um serviço de saúde e o recebimento do diagnóstico de câncer. Pacientes do sexo feminino (OR = 5,6, IC = 1,658-18,934, p = 0,006) e com o tumor localizado na laringe (OR = 11,2, IC = 2,204- 56,987, p = 0,004), tiveram um maior atraso entre perceber o primeiro sintoma e ter o diagnóstico da doença. Em conjunto a fatores clinicopatológicos, o histórico de experiências traumáticas na infância pode ser preditivo para um maior atraso do paciente com câncer procurar os serviços de saúde e receber o diagnóstico. Os resultados do presente estudo devem estimular que a redução do trauma no período infantil seja considerada no desenvolvimento de estratégias para a prevenção secundária do câncer.