Em asfalto não nasce feijão : barragem enquanto acontecimento social e os meios de vida do reassentamento de Nova Soberbo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Batista, Ralph Sales
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Instituições sociais e desenvolvimento; Cultura, processos sociais e conhecimento
Mestrado em Extensão Rural
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/4197
Resumo: O objetivo central desta dissertação foi analisar o processo de readequação da população de São Sebastião do Soberbo, que vive no município de Santa Cruz do Escalvado, na bacia do Alto do rio Doce/Minas Gerais, atingida pela Usina Hidrelétrica Candonga (UHE Candonga) e que foi deslocada para o reassentamento de Nova Soberbo em meados de 2003 e início de 2004. Para tanto, buscou-se enfatizar os limites, as possibilidades e as capacidades dos moradores em recriar seus meios de vida frente ao acontecimento do deslocamento e do reassentamento para o novo espaço. A análise apresentada baseou-se em um estudo de caso realizado em 2012 com a utilização de pesquisa documental, da observação participante, da aplicação de questionários incluindo questões abertas, da história oral, bem como recursos fotográficos. Neste contexto, a pesquisa abordou os reassentados com base em três temporalidades distintas, a saber, a chegada da UHE Candonga a São Sebastião do Soberbo, o processo de construção e de inauguração da Usina com seus impactos sociais, econômicos e culturais na ordem da vida cotidiana e os desdobramentos sociais deste acontecimento ao longo de 9 anos no reassentamento. O eixo teórico considerou a interpretação do fenômeno da construção da barragem enquanto acontecimento social que altera o cotidiano daqueles que, pela primeira vez, se deparam com grandes empreendimentos de infraestrutura que se apresentam como promotores do desenvolvimento econômico e social da sociedade. Utilizou- se também de diferentes abordagens sobre deslocamentos e reassentamentos involuntários que preconizam diversas mudanças e rupturas na trajetória de contingentes populacionais que sofrem alterações nos seus modos de vida tradicionais. Os reassentamentos, em geral, implicam na necessidade de reestruturação da vida individual, familiar e coletiva. Reestruturação esta aqui analisada sob a ótica da abordagem dos meios de vida e sob a teoria da agência humana que destacam a capacidade dos atores sociais de processarem experiências e incorrerem em ações e estratégias na tentativa de acesso a recursos tangíveis e intangíveis na reinvenção das formas de sobrevivência. Os desdobramentos sociais decorrentes das condições oferecidas e estruturadas pelo empreendedor, principalmente, em função das relações estabelecidas com o Consórcio Candonga e a vivência no reassentamento, implicaram na constituição da categoria social atingido por barragem . Esta constatação sugeriu também uma análise mais detalhada desta condição social cuja existência foi desencadeada pela construção da barragem. As reflexões obtidas, a partir deste estudo de caso, apontaram algumas alterações definitivas nas formas de produção e reprodução social dos moradores, e o reassentamento, enquanto possibilidade de reconstrução do cotidiano, apresentou-se como um espaço que marca impossibilidades e dificuldades de reestabelecimentos das anteriores relações sociais e atividades de sustento na tessitura de novas referências sociais erigidas sob a atuação e a intervenção do Consórcio Candonga. Demonstraram, ainda, diversos danos subjetivos e emocionais ocasionados pela sensação de desenraizamento provocados pelo impacto da barragem, pelas limitações de sobrevivência no reassentamento e pelas falhas do empreendedor em mitigar e compensar as diversas perdas ocorridas com a mudança de um lugar a outro. E os reassentados, ao vivenciarem este processo, forjam novos elementos no âmbito da sua condição individual e social constituindo- se em atingidos por barragem que incorrem na luta por reconhecimento de seus direitos denegados. Assim, a implantação da barragem repercutiu em um processo profundo de transformação social para aqueles que ainda vivem sob o impacto do deslocamento/reassentamento e vêm se deparando com dificuldades na apropriação das novas condições materiais e imateriais na garantia da reprodução social.