Ecologia de Florestas Atlânticas com ocorrência do muriqui (Brachyteles spp.): diversidade, sucessão secundária e estrutura nutricional

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Silva Junior, Wilson Marcelo da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Botânica estrutural; Ecologia e Sistemática
Doutorado em Botânica
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/346
Resumo: Este estudo é composto por três capítulos que possuem como objetivo primordial entender como diferentes variáveis florestais se correlacionam com a distribuição, abundância e uso do espaço por primatas do gênero Brachyteles. O primeiro capítulo objetivou especificamente caracterizar e comparar a diversidade arbórea e sucessão secundária de três fragmentos florestais com ocorrência do Brachyteles hypoxanthus em Minas Gerais: Parque Estadual do Rio Doce (PERD), RPPN Mata do Sossego (Sossego) e Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Para alcançar tal objetivo, foram amostrados 800 indivíduos arbóreos com, no mínimo 15 cm de CAP (circunferência do caule na altura de 1,30 metros do solo), distribuídos em 200 pontos quadrantes em cada floresta. Foram ainda calculados o índice de diversidade de Shannon (H ), a equabilidade (J), o estágio sucessional, e distribuição do número de indivíduos em classes de diâmetros com intervalos de 5 cm. Adicionalmente, as três florestas foram comparadas floristicamente utilizando-se o índice de similaridade de Jaccard (S) e o algoritmo UPGMA. As três florestas mostraram estruturas de diversidade distintas. O PERD mostrou a menor e maior diversidade alfa e beta respectivamente, a menor equabilidade, e foi a floresta em estágio mais avançado de sucessão. Muito dos resultados obtidos no PERD ocorreram em função da quase mono- dominância de Senefeldera multiflora (Euphorbiaceae). S. multiflora não representa um recurso alimentar para muriquis, e, portanto, sua presença maciça dilui a oferta de recursos alimentares na matriz florestal, elevando o orçamento energético e área de vida dos muriquis, o que culmina na queda de sua densidade. As florestas do Sossego e PESB mostraram maiores valores de diversidade e equabilidade. Em termos sucessionais, o Sossego é mais avançado que o PESB tanto em número de espécies tardias quanto na estrutura diamétrica. Tais características proporcionam uma oferta maior de alimento além de favorecer o surgimento de itens alternativos na escassez de itens prediletos, o que contribui para elevar as densidades de muriquis nessas florestas. O capítulo dois objetivou investigar a correlação entre a densidade populacional de Brachyteles e a oferta de alimento. Para isso foram compilados na literatura todos os gêneros botânicos inclusos na dieta de muriquis (gêneros-recurso), dados pertinentes a seis florestas (três em Minas Gerais, duas em São Paulo e uma no Espírito Santo) com densidades populacionais de muriquis e composição florística e fitossociológica determinadas. Foram verificadas as presenças dos gêneros-recurso nas tabelas fitossociológicas, e estas foram divididas em duas novas: uma com gêneros recurso e outra com gênero não recurso. As densidades e dominâncias relativas de cada modalidade de gêneros foram somadas. Dados proporcionais também foram calculados para cada floresta: razão de densidade e razão de biomassa entre as modalidades de gêneros. A densidade de muriquis entrou como variável resposta e os estimadores da oferta de recurso como variáveis explanatórias numa regressão múltipla (GLM). Apenas a razão de biomassa e sua interação com a razão de densidade foram significativas para explicar a densidade de muriquis. Isso significa que a grande biomassa proporcional dos gêneros botânicos que são recursos alimentares em relação àqueles que não são responde pela maior capacidade de suporte alimentar dessas florestas. Em geral a proporção foi de 3:1 tanto em densidade quanto em biomassa. Árvores de grande porte conferem maior segurança durante as locomoções, principalmente para primatas de grande porte como o muriqui. Adicionalmente, ofertam alimento com fartura, permitindo uma organização social do grupo mais coesa, diminui a área de vida e desfavorece a competição entre grupos. As ações mais efetivas para a conservação do muriqui é o aumento das áreas florestadas através do plantio de enriquecimento e construção de corredores ecológicos. Sugere-se que nessas ações, ocorra o plantio de pelo menos 60% de gêneros botânicos recursos, e que a condução do manejo propicie o ganho preferencial de biomassa para esses gêneros. O terceiro capítulo objetivou investigar o papel do estágio sucessional, estrutura e o perfil químico (relação foliar de proteína/fibra) no uso do espaço por um grupo de B. hypoxanthus entre áreas com intensidade de uso distintas no PESB em Minas Gerais. Foi realizada uma amostragem da vegetação em cada sítio do PESB com o mesmo esforço amostral, critério de inclusão e sistema de classificação do estágio sucessional apresentado no capítulo 1. Para a determinação do perfil químico de cada sítio foram coletadas folhas de três indivíduos de todas as espécies que somaram mais de 80% do VI de cada sítio, independente da integridade e grau de desenvolvimento. A análise química dessas folhas determinou os teores de nitrogênio, proteína, fibras e a relação proteína fibra (P/F). Os teores de P/F foram avaliados entre sítios e entre grupos ecológicos. Para a unificação espacial das variáveis estruturais e fitoquímicas com a abundância de muriquis, foram construídos 50 buffers de 20m de raio no ponto médio entre dois pontos quadrantes, e para cada buffer foram calculados a densidade de caules, a área basal média das árvores e a P/F média. Foram construídos outros 50 buffers concêntricos com 50 m de raio para a contagem do número de muriquis por buffer. O número de muriquis foi a variável resposta e a densidade de caules, área basal e P/F média foram as variáveis explanatórias inseridas no modelo completo de regressão múltipla. A única variável capaz de explicar o uso do espaço foi a interação entre área basal e densidade de caules. Não houve diferença estatística na P/F entre os sítios, mas no sítio evitado, as espécies tardias mostraram menor P/F, enquanto que o sítio mais usado mostrou-se mais homogêneo, não havendo diferença entre os grupos ecológicos. A diferença estrutural mais importante deveu-se à existência de grandes manchas de bambus no sítio evitado pelos muriquis devido ao seu histórico de perturbação. A presença de bambus promove descontinuidade no dossel afetando negativamente a regeneração de florestas por supressão do crescimento e danos físicos às espécies regenerantes. Este tipo de estrutura aumenta o orçamento energético da fauna arborícola por aumentar as rotas verticais e horizontais durante a locomoção. Essa característica aliada a maior heterogeneidade química sugere um ambiente energeticamente oneroso nas quais os muriquis evitam devido à presença de sítios adjacentes mais favoráveis. Esses resultados indicam que o rumo tomado pela sucessão secundária favoreceu a regeneração de bambus no sítio evitado. Recomenda-se num curto prazo, que manejos objetivando diminuir a dominância de espécies não recurso, como bambus no PESB e S. multiflora no PERD, sejam ações efetivas para a melhoria do hábitat desses primatas. O monitoramento da sucessão secundária é uma ferramenta adicional nos estudos que visam a conservação do muriqui.