Socioecologia de Muriquis-do-Norte (Brachyteles hypoxanthus) no Parque Estadual Serra do Brigadeiro, MG

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Moreira, Leandro Santana
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Biologia e Manejo animal
Mestrado em Biologia Animal
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/2205
Resumo: Segundo o conceito de nicho ecológico, cada espécie sobrevive somente num dado conjunto de características naturais, ainda que tolere intervalos de variação em cada traço ou dimensão ambiental. Conhecer o nicho necessário à sobrevivência de um organismo, assim como as estratégias comportamentais utilizadas por indivíduos ou grupos para se ajustarem a alterações no meio ambiente é essencial para a determinação de ações conservacionistas, especialmente no caso de espécies ameaçadas. Muriquis (gênero Brachyteles) são endêmicos da Mata Atlântica, na sua porção central. A exploração indiscriminada deste ecossistema desde a descoberta do Brasil expôs os muriquis a um alto risco de extinção. Muriquis-do-norte (B. hypoxanthus) são listados nacionalmente como Criticamente em Perigo . Esta dissertação objetivou: 1) contextualizar o Parque Estadual Serra do Brigadeiro (PESB) como hábitat para uma população remanescente de muriquis-do-norte; 2) investigar duas dimensões do nicho ecológico de muriquis: o padrão fenológico arbóreo e a estrutura básica da floresta (com relação ao diâmetro e altura das árvores); e 3) investigar as estratégias de forrageamento empregadas por muriquis frente a variações na disponibilidade de recursos alimentares. Ao longo de 2 anos e 4 meses, um grupo de muriquis situado ao redor da Fazenda do Brigadeiro, norte do PESB, foi habituado e monitorado. Durante 12 meses, foi utilizado o método de scan sampling para a obtenção de dados comportamentais sobre este grupo. Foram geradas 1680 sessões de scans (420 horas de observação). Para avaliar a estrutura florestal, o padrão fenológico arbóreo e a disponibilidade de recursos alimentares, foram selecionadas e medidas 800 árvores utilizando-se a metodologia de pontos quadrantes, das quais uma média de 548 foram monitoradas por mês. Muriquis selecionaram mais árvores grandes do que seria esperado de acordo com a distribuição de tamanhos de árvores na floresta. A dieta anual do grupo foi composta por 40.9 % de frutos, 31.6 % de folhas maduras, 9.6 % de folhas novas, 3.3 % de brotos, 4.8 % de flores e botões florais e 9.9 % de outros itens. O padrão fenológico da área indicou uma produtividade de itens de forma não sincronizada (apenas frutos e flores apresentaram sincronia na abundância com a qual são disponibilizados na floresta). A principal estratégia de forrageamento utilizada por muriquis em períodos de escassez de itens preferenciais (frutos e flores) foi a flexibilidade na dieta. Fêmeas ajustaram sua dieta à disponibilidade de frutos, enquanto machos ajustaram-se à disponibilidade de partes florais. Em épocas com escassa disponibilidade de alimentos, ambos comeram mais folhas. Ao longo do ano, machos foram mais folívoros do que fêmeas. Outra estratégia significativa foi o ajuste no padrão de agrupamento entre indivíduos, sendo que fêmeas toleraram mais vizinhos a distâncias mais curtas durante períodos de alto consumo de frutos. Estratégias territoriais (ajustes nos deslocamentos diários e nas áreas de uso) não foram claramente significativas para o grupo estudado, apesar de um aumento na área de uso da estação chuvosa para a seca. O PESB abriga uma grande população remanescente de muriquis-do-norte. A flexibilidade comportamental observada nesta espécie, bem como o refinamento nas dimensões de seu nicho avaliadas aqui, permitem o delineamento de diretivas para a manutenção desta população, assim como planos de manejo para a reestruturação de outras populações. A recuperação de hábitats florestais para a conservação de muriquis deve levar em consideração os requerimentos desta espécie quanto ao tamanho das árvores, padrões fenológicos e disponibilidades de itens alimentares.