Acometimento cardíaco e o valor prognóstico da medida da função sistólica do ventrículo esquerdo pelo método da deformação miocárdica (strain) nas miopatias autoimune sistêmicas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Machado, Luiz Samuel Gomes [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/65394
Resumo: Introdução: Miopatias autoimunes sistêmicas (MAS) podem afetar outros órgãos além dos músculos, como os pulmões, o esôfago, o coração e as articulações. O acometimento cardíaco é bastante variável, sendo uma das principais causas de óbito desses pacientes. O strain ecocardiográfico é a medida, em porcentagem, do grau de deformação do miocárdio, um parâmetro capaz de detectar alterações cardíacas precoces. Objetivos: primário: comparar pacientes e controles em relação aos acometimentos cardíacos e strain; secundários: avaliar se a medida do strain global longitudinal (GLS) do ventrículo esquerdo (VE), pela técnica de Speckle Tracking Echocardiography (STE) tem valor prognóstico nas MAS; avaliar as características demográficas, clínicas, laboratoriais e eletro e ecocardiográficas de pacientes com GLS do VE normal e reduzido; avaliar associação entre anticorpos miosite específicos e miosite associados e envolvimento cardíaco. Métodos: O estudo foi realizado em duas fases: 1) Fase transversal, em que 61 pacientes com MAS, constituíram o grupo paciente e 32 controles sem MAS formaram o grupo controle. Os grupos foram comparados em relação às dosagens de NT-proBNP e troponina, alterações eletrocardiográficas e ecocardiográficas, incluindo medidas de GLS do VE e strain da parede livre do VD. Foi também avaliada associação entre acometimento cardíaco dos pacientes e os anticorpos miosites específicos (AME) e miosites associados (AMA) 2) Fase longitudinal, em que os pacientes foram divididos em dois subgrupos: 26 com GLS do VE reduzido e 35 com GLS do VE normal e acompanhados com avaliações clínicas e laboratoriais a cada 4-5 meses. Ao final do seguimento, os subgrupos foram comparados em relação à ocorrência de eventos cardiovasculares, internações, mortalidade e aos critérios de atividade da MAS: dosagem de creatinofosfoquinase (CPK), avaliação do manual muscle testing (MMT8), da escala visual analógica (EVA) do médico e do paciente, do Health Assessment Questionnaire (HAQ) e do myositis disease activity assessment visual analogue scales (MYOACT). Resultados: O grupo paciente teve maior proporção de indivíduos hipertensos (55,7% vs 21,9%, p=0,002) e dislipidêmicos (50,8% vs 21,9%; p=0,007) que os controles. A média do GLS do VE foi menor nos pacientes quando comparado aos controles (18,5 ± 2,9% vs 21,6 ± 2,5%; p<0,001). A média da medida do strain da parede livre de VD também foi menor nos pacientes que nos controles (21,9 ± 6,1% vs 27,5 ± 4,7%; p<0,001). Foi observado que no grupo paciente havia maior proporção de indivíduos com medida de GLS do VE reduzida (42,6% vs 3,1%; p<0,001) e medida de strain da parede livre de VD reduzida (23,0% vs 0,0%; p=0,002) quando comparados ao grupo controle. A média da dosagem de NT-proBNP nos pacientes foi superior aos dos controles (103,0 ± 125,6 vs 61,3 ± 90,6, p=0,006) e a proporção de NT-proBNP elevado também foi maior no grupo paciente (23% vs 6,3%, p=0,048). Não houve diferença em relação aos outros acometimentos cardíacos. A positividade do anti-Jo1 foi associado às alterações gerais no ECG (p=0,018 e odds ratio=4,650) e à disfunção diastólica de VE (p=0,005, odds ratio=6,833). Os outros anticorpos não tiveram associação com envolvimento cardíaco. O subgrupo de pacientes com redução da medida do GLS, no início do seguimento, tinha uma maior proporção de acometimento esofágico (34,6% vs 8,6%, p=0,011) e de sobrecarga de VE no ECG (19,2% vs 0,0%, p=0,001), uma menor média da fração de ejeção (FE) do VE (67,4 ± 3,9 vs 69,6 ± 3,4, p=0,011) e proporcionalmente mais homens (17/9 vs 32/3, p=0,011) do que o subgrupo com GLS normal. Após seguimento médio de 25,0 ± 3,0 meses, foi observado que o subgrupo com GLS reduzido teve maiores médias de CPK, de MYOACT (8,25 ± 4,9 vs 4,14 ± 5,4, p=0,002), da EVA do médico (2,99 ± 1,9 vs 1,73 ± 1,7, p=0,006) e do paciente (3,19 ± 1,9 vs 1,96 ± 1,8, p=0,009) e do HAQ (0,665 ± 0,490 vs 0,368 ± 0,467, p=0,014), além de maior proporção de pacientes com recidivas do que o subgrupo com GLS normal (57,7% vs 11,4%, p=0,001). Não houve diferença entre os subgrupos em relação à mortalidade, internações e eventos cardiovasculares. Conclusões: pacientes tiveram maior média e proporção de NT-proBNP, além de apresentarem menor medida do strain da parede livre do VD e do GLS do VE em relação aos controles, tanto em avaliação quantitativa quanto qualitativa. O subgrupo de pacientes com redução da medida do GLS, no início do seguimento, era semelhante ao subgrupo com GLS normal. Após seguimento de 25 meses, o subgrupo de pacientes com GLS do VE reduzido evoluiu com mais recidivas e maior atividade da doença quando comparado ao subgrupo com GLS do VE normal. Foi observada associação entre positividade de anticorpo anti-Jo1 e alterações gerais no ECG e disfunção diastólica de VE. Nosso estudo sugere que a medida do GLS de VE reduzida possa identificar subgrupo de pacientes com maiores chances de evoluírem com mais recidivas e maior atividade da doença.