A Rede ou as Redes? Dados e perspectivas sobre a rede de atenção oncológica em uma região de saúde na cidade de São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Souza, Morris Pimenta e [UNIFESP]
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://hdl.handle.net/11600/62583
Resumo: Introdução: A rede de atenção oncológica no Estado de São Paulo surge como um arranjo organizativo que visa a aprimorar o acesso ao diagnóstico e tratamento com vistas à redução da mortalidade por câncer. Seu funcionamento guarda uma série de peculiaridades e a forma como essa rede é percebida pelos seus atores, em especial pela operacionalização do seu protocolo de acesso, pode ser muito variável, distanciando-se na prática do desenho proposto. Objetivos: Analisar o processo de implementação da rede de oncologia na Região Leste da Cidade de São Paulo, o modelo de regulação de acesso adotado e seus efeitos na gestão do cuidado oncológico. Verificar se, em pacientes oncológicos, os múltiplos itinerários previstos pelas RAS se operacionalizam de fato; analisar os efeitos assistenciais do modelo vigente de regulação do acesso, em especial quanto às dimensões de regionalização e porta de entrada preferencial do sistema, bem como analisar, de forma comparativa e qualitativa, o funcionamento dessa rede na perspectiva dos gestores, trabalhadores e usuários. Percurso metodológico: Foi realizado um estudo de caráter quali-quantitativo com adoção de múltiplas técnicas para a produção e análise de dados. Utilizou-se indicadores epidemiológicos para analisar a evolução da capacidade instalada, acesso ambulatorial e hospitalar, regulação assistencial e mortalidade. A presença do tema no planejamento dos gestores foi investigada nos planos de saúde. A perspectivas de gestores, trabalhadores e usuários sobre essa rede foi também analisada a partir de 24 entrevistas. Resultados: A análise dos indicadores epidemiológicos demonstrou que houve avanços no acesso ambulatorial e hospitalar relacionados ao câncer, associados a um incremento e melhor adequação da capacidade instalada na região, repercutindo, dentre outras coisas, na redução das taxas de mortalidade padronizadas por idade. Percebe-se, no entanto, que ainda restam grandes assimetrias entre as regiões e entre grupos oncológicos específicos, bem como oportunidades de melhoria quanto ao planejamento. Os gestores possuem uma perspectiva heterogênea e crítica sobre o processo, sendo o desfinanciamento da rede oncológica um dos principais problemas apontados. A perspectiva dos trabalhadores se torna mais crítica conforme seu grau de especialização, sendo mais críticos os que atuam nos hospitais . Os protocolos de acesso são bem avaliados pelos trabalhadores da Atenção Básica, porém muito criticados pelos dos hospitais. Os usuários desconhecem os protocolos e os desenhos formais da rede e operam seus mapas de cuidado de forma autônoma, muitas vezes compondo com o uso do setor privado e apoio de profissionais do SUS. Conclusões: O estudo demonstrou avanços importantes na rede de câncer na região, porém não há de fato gestão em rede do fluxo da assistência ao câncer. Observam-se significativas assimetrias entre as regiões. Diversos problemas, como o financiamento insuficiente do cuidado oncológico no SUS, bem como a alta fragmentação da gestão e do relacionamento entre os serviços permanecem muito além do desejável, o que se expressa em oportunidades de melhoria de acesso tanto para o diagnóstico quanto para tratamento. Tais fatos contribuem, dentre outras consequências, para um acesso pouco regionalizado e com forte viés pelas portas de urgência. Como esperado, as perspectivas dos atores são heterogêneas e demonstram baixa institucionalidade dessa rede no cotidiano, sendo ignorada por usuários e simplificada por trabalhadores, que a tratam como sinônimo da regulação de acesso.