Resumo: |
Esta tese apresenta um estudo comparativo entre as literaturas das escritoras Maria Judite de Carvalho (1921, Lisboa – 1998, Lisboa) e Lygia Fagundes Telles (1923, São Paulo –), tendo por objetivo analisar como o espaço social da autoria feminina é definido no campo literário luso-brasileiro e como os espaços narrativos são construídos nos contos “Além do Quadro” e “As Palavras Poupadas”, da autora portuguesa, “Venha Ver o Pôr do Sol” e “Noturno Amarelo”, da escritora brasileira. Para tanto, o trabalho foi estruturado a partir de dois eixos teórico-metodológicos: o primeiro, com base nas ideias sobre campo literário e habitus de Pierre Bourdieu (1996, 2003, 2012, 2015), investiga-se por um viés sociológico a trajetória da autoria feminina em contextos heterogêneos para se compreender a maneira como as autoras interpretaram a sua época e conquistaram um lugar de consolidação no campo literário luso-brasileiro. A segunda perspectiva de análise tem como foco a construção do espaço enquanto categoria narrativa, objetivando examinar como os espaços heterotópicos são representados, de acordo com Michel Foucault ([1967] 2001). Portanto, analisa-se os lugares heterotópicos como sanatório, asilo, cemitério, espelho e jardim, observando as relações entre espaço e poder simbólico em confronto com os corpos-espaços femininos representados nos contos. Por considerar-se os corpos das personagens femininas analisadas também como heterotopias, algumas tipologias foram traçadas visando a compreensão de questões relativas à violência simbólica que o poder androcêntrico impõe ao corpo-espaço das mulheres, são elas: corpo-espaço doente, corpo-espaço insubmisso, corpo-espaço dócil, corpo-espaço órfão, corpo-espaço coisificado, corpo-espaço cativo e corpo-espaço culpado. A partir da análise observa-se, portanto, que os espaços representados nas narrativas juditianas e lygianas refratam o contexto de opressão do sujeito feminino, são contra-espaços que unidos ao simbólico traduzem o medo e a insegurança, o silêncio e a solidão, a precisa angústia da escritura feminina. |
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