O jogo da cultura e a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2003
Autor(a) principal: Gomes-da- Silva, Pierre Normando
Orientador(a): Cavalcanti, Katia Brandão
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/32602
Resumo: A corporeidade é o ambiente de comunicação emergido da interseção dos gestos. O entrelaçamento dos gestos é uma prática de linguagem culturalmente constituída. A cultura é a estrutura significativa que ordena a ação. A ação social que cria cultura é jogo, maneira de combinar elementos e organizar as trocas, construindo uma situação que rompe com os determinismos naturais e sociais. Nesse entendimento, objetivamos descobrir as configurações da corporeidade no jogo por meio da análise semiótica dos gestos. Numa abordagem fenomenológica e multirreferencial, analisamos três tipos de situações lúdicas (onírica, poética, motora), utilizando como procedimento a metodologia semiótica, tanto a francesa quanto a americana. Para o jogo onírico, registrado na narrativa de um sonho, e para o jogo poético, estabelecido num poema de Augusto dos Anjos, recorremos ao Método de Interpretação Onírica de Sigmund Freud, à Análise Estrutural de Narrativa de Roland Barthes, e a Função Estética de Jan Mukaróvský. Para o jogo motor, descrito em três jogos de apostas e três jogos de exercícios infantis, empregamos a Gramática Especulativa de Charles Peirce. O eixo semântico do jogo onírico é de busca. Ao acumular ações, num medo de ficar para trás, o sujeito se distancia da sua intenção original, porque foge da angústia. Numa estrutura musical binária, o sujeito está atirado à ação e sofre por não se realizar plenamente. A tendência dos gestos nesse jogo é a “corporeidade do atiramento”. O eixo semântico do jogo poético é de luta. O sujeito age enfrentando aquele que o ameaça. Numa música de compasso ternário, o sujeito age sentindo a fúria do adversário indestrutível – a morte. Então, ao reconhecer-se mortal, inconformado com o mundo tal como ele é, cria um artifício, um golpe traiçoeiro e vingativo, que dilata seu espaço existencial. A tendência dos gestos, nesse jogo, é a “corporeidade poetante”. A trama sígnica do jogo motor é formada pela significação das suas propriedades, particularidades e generalidades, pela representatividade das suas sugestões, indicações e aplicações, e pela implicação dos efeitos emocionais, musculares e cognitivos sobre os jogadores. A tendência dos gestos nesse jogo é de criar um arranjo artístico, cuja beleza é gerada numa qualidade de sentimento, numa ação ética e numa forma de conhecimento do mundo. Portanto, a cultura é um jogo em que os gestos humanos tendem para o trânsito entre a corporeidade do atiramento e a corporeidade poetante. E o jogo motor é uma cultura, na qual os gestos tendem para a criação de uma obra de arte. Por isso, a tarefa educativa deve operar no entendimento de que o homem é um jogador, de que a cultura é uma possibilidade de existência poetante e de que o jogo é o campo da percepção e da reinvenção do real, favorecendo a re-significação da existência humana.