Gramáticas brasileiras contemporâneas do português: linhas de continuidade e movimentos de ruptura com o paradigma tradicional de gramatização

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: SILVA, Francisco Eduardo Vieira da
Orientador(a): MARCUSCHI, Elizabeth
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pos Graduacao em Letras
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/15665
Resumo: Esta tese analisa as gramáticas brasileiras contemporâneas do português (GBCP), em particular Azeredo (2008), Perini (2010) e Bagno (2012). O trabalho se situa no campo da Linguística Aplicada, entendida como prática social, reflexiva, crítica e indisciplinar (MOITA LOPES, 2008b; ROJO, 2008). Parte-se da defesa de que: o paradigma tradicional de gramatização (PTG) é o modelo responsável por nortear, há mais de dois mil anos, a elaboração de gramáticas no Ocidente; o novo conjunto de compromissos dos estudos linguísticos brasileiros com a gramatização de nossa língua ocasiona deslizes ou mesmo rupturas epistemológicas com esse paradigma. Diante disso, o objetivo geral da pesquisa consiste em caracterizar essa recente transição de paradigmas encabeçada pelas GBCP, em se tratando das linhas de continuidade e dos movimentos de ruptura envolvidos. A fim de construir e caracterizar a noção de PTG no contexto da historiografia linguístico-gramatical, é feito um apanhado histórico sobre as primeiras reflexões na cultura ocidental acerca da gramática, o consequente surgimento da doutrina gramatical greco-romana na Antiguidade e o processo de gramatização dos vernáculos europeus modernos no Renascimento. Já com o propósito de entender como se instituiu, como se desenvolveu e no que resultou o PTG no contexto luso-brasileiro, resgata-se a história das gramáticas do português de natureza prescritivo-normativa, produzidas em Portugal desde o século XVI e no Brasil a partir do século XIX, e reflete-se sobre a noção de “norma-padrão” como consequência da gramatização tradicional. Quatro categorias de análise dão o norte da investigação das GBCP: (a) demandas e propósitos sociais; (b) concepções teóricas e configurações metodológicas; (c) arcabouço descritivo, categorial e conceitual; e (d) língua gramatizada. Os resultados atestam que as GBCP oscilam entre movimentos de ruptura e linhas de continuidade no tangente às quatro categorias. Essas obras, cada uma a seu modo: atentam-se a outras funções sociais, diferentes dos propósitos genéricos das gramáticas tradicionais; deslocam-se do que socialmente se costuma esperar de um livro de gramática; reconhecem a insuficiência teóricometodológica da doutrina gramatical, mas não apresentam um paradigma que a substitua; apresentam tanto pontos de subversão descritiva em relação à tradição gramatical lusobrasileira, quanto continuidade terminológico-conceitual com o PTG, a despeito de teorias linguísticas e novos critérios de categorização delineados; avançam a caminho do reconhecimento, da valorização e da legitimação de aspectos genuinamente brasileiros nos nossos usos comuns falados e escritos, embora efetuem um recorte na língua, a fim de gramatizá-la e, consequentemente, homogeneizá-la, tal qual a construção de qualquer normapadrão. Em suma, as GBCP não correspondem exatamente a um novo paradigma de gramatização em vigor, mas sim ao esgarçamento do PTG e ao surgimento de novas frentes de gramatização ainda embrionárias, que buscam atender, na medida do possível, às demandas da virada linguística. Deve-se frisar que os pontos fortes e fracos dessas novas gramáticas nem sempre correspondem, respectivamente, aos seus conjuntos de rupturas e continuidades.