Observando crianças e refletindo sobre o papel do movimento na comunicação

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Maria Porpino Viana, Karine
Orientador(a): Isabel Patricio de Carvalho Pedrosa, Maria
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/8233
Resumo: Este trabalho procura compreender as relações entre corpo, pensamento e comunicação partindo do pressuposto de que o ser humano é biologicamente social. É pelo corpo que o recém-nascido expressa suas emoções as quais, pelo seu poder de contágio, possibilitam um intercâmbio entre a criança e o adulto. Wallon enfatiza que se é por meio do corpo que a criança expressa, inicialmente, suas disposições e seus estados afetivos e, posteriormente, suas idéias, a mímica está mais próxima da representação do que da ação. Assim, o ato mental é constituído a partir do ato motor. Impedir a criança de se movimentar é, muitas vezes, impedi-la de pensar. Tomasello, ao enfatizar a funcionalidade do gesto de apontar, explicita a relação íntima entre o corpo e o pensamento. Esse e outros movimentos, analisados dentro de uma cena de atenção conjunta, podem ter a função de influenciar o comportamento do outro (gesto imperativo), fazer com que o outro compartilhe a atenção em relação a uma terceira entidade (gesto declarativo) ou oferecer ajuda ao co-específico em relação a um objeto perdido (gesto informativo). As teorias de Wallon e Tomasello trazem como ponto comum a idéia de ser o gesto um recurso comunicativo préverbal que possui íntima relação com a construção e a expressão do pensamento da criança. Diante dessas considerações, o objetivo do presente trabalho foi explicitar, por meio da observação de crianças interagindo, o papel de seus movimentos na constituição da atividade mental. Foram videogravadas 19 crianças entre 39 e 51 meses, pertencentes a uma creche pública da cidade do Recife, durante duas situações interacionais distintas. Na primeira, o grupo foi filmado duas vezes, durante trinta minutos em média, no momento da atividade pedagógica reservada para a conversa - educadora e crianças discutem assuntos específicos previamente selecionados. Na segunda situação, as crianças, em grupos de três, foram videogravadas durante 20 minutos brincando livremente em uma sala organizada com materiais que supostamente estimulavam o faz-de-conta. A partir da observação desses registros, foram recortados 66 episódios (55 da situação de trio e 11 da situação da conversa ) que indicavam como a criança fazia uso do movimento para conferir presença ao pensamento e assim se comunicar com o parceiro. A análise desses episódios conduziu à reflexão de quatro aspectos: (1) movimento e emoção: indícios da coesão grupal; (2) corpo como instrumento de representação; (3) o gesto de apontar: componente do pensamento e da comunicação; (4) o não controle do movimento. Embora a criança faça uso da linguagem verbal, a análise traz indícios relevantes que fortalecem a hipótese de que o corpo é instrumento para expressar idéias e se comunicar com o parceiro. E mais, assim como a linguagem verbal, o movimento que se ajusta às idéias para explicitá-las, segmentando-as e seqüenciando-as, é constitutivo do pensamento. Os achados sinalizam a impossibilidade de se conceber a mente como algo segregado do corpo: orgânico e psíquico desdobram-se mutuamente, portanto, constroem-se por exigências do interagir. Em decorrência, lança-se um olhar sobre os sistemas disciplinares de instituições educacionais infantis: a dificuldade de as crianças conterem o movimento durante a interação contraria a concepção corrente de que para pensar é preciso estar imóvel. Conclui-se que compreender o pensamento da criança implica compreender a sua corporeidade, reconhecendo o movimento como um veículo de expressividade e comunicação