“Aqueles que a sociedade julga ser de mulher, mas mulher que não estudou”: análise da relação subjetividade e trabalho de mulheres trabalhadoras domésticas diaristas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Lucena, Maria do Socorro Roberto de lattes
Orientador(a): Souza, Paulo César Zambroni de lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Paraíba
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
Departamento: Psicologia Social
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/31526
Resumo: As perspectivas feministas que ancoram suas interpretações sob as noções de divisão sexual e racial do trabalho, de interseccionalidade das relações sociais de sexo/gênero, etnia/raça e classe, vêm garantindo ou cuidando para que esses marcadores sociais e interseccionados não sejam esquecidos na leitura do campo social ou dos fenômenos decorrentes do mesmo. Contudo, ainda não figuram ou são incipientes em diversos ramos do conhecimento, como é o caso da Psicologia do Trabalho. Tal cenário é especialmente preocupante, quando se trata da sociedade brasileira, uma sociedade compósita pelo racismo, sexismo e classismo. Na qual o trabalho doméstico remunerado (TDR) é expoente dessa história. Na contemporaneidade, em território nacional, assiste-se à diarização do TDR. Assim, a presente tese teve como objetivo analisar a relação subjetividade-trabalho de mulheres trabalhadoras domésticas diaristas com dimensão de sexo/gênero, raça e classe. Para tanto, esta tese está organizada em cinco capítulos, todos em formato de artigos. O primeiro artigo trata da apresentação detalhada dos fundamentos teóricos ou das interlocuções teóricas que embasaram a definição do problema e os questionamentos norteadores da investigação. O segundo artigo reúne informações acerca da situação da(s) mulher(es) em contexto de reestruturação produtiva e pandemia de Covid-19. Com esse fim, foi realizada uma pesquisa documental. O universo de documentos consiste em relatórios, boletins, artigos científicos, entre outros, nacionais e internacionais. O panorama construído ou organizado nesse artigo agrega elementos e dá continuidade às discussões teóricas realizadas no artigo anterior. Além disso, fornece notas importantíssimas sobre a macropolítica, as (re)formulações das desigualdades que atravessam a participação das mulheres no mundo do trabalho e elenca alguns desafios atuais da luta feminista. A fim de estreitar as discussões em relação às mulheres trabalhadoras domésticas diaristas e a realidade brasileira, o terceiro artigo compreende uma revisão sistemática e metanálise da produção científica nacional acerca da relação TDR e gênero. A busca eletrônica inicial resultou em 1.127 produções e, após a aplicação dos critérios de inclusão e a exclusão dos replicados, 16 produções foram selecionadas. Com a avaliação dos juízes, 13 artigos foram considerados elegíveis para a análise cientométrica e de conteúdo categorial. A maioria das produções analisadas pontuam e sinalizam a interseccionalidade entre sexo/gênero, etnia/raça e classe na configuração da posição do TDR na hierarquia sócio-ocupacional, do perfil das trabalhadoras domésticas remuneradas e das características de suas condições e relações de trabalho. Além disso, foi possível identificar carecimentos ou caminhos de pesquisas, sendo pertinentes para o delineamento e robustez da investigação empírica, que compõem o presente trabalho. Os artigos quatro e cinco referem-se a pesquisa de campo qualitativa com a participação de dez mulheres diaristas, e têm objetivos de análise diferentes. Entrevistas não-estruturadas e questionário sociodemográfico foram usados como instrumentos e a abordagem hermenêutica-dialética o método de análise dos dados. Em ambos estudos, os referenciais teóricos de apoio foram a Sociologia da Divisão Sexual do Trabalho, o paradigma afrocêntrico das discussões de gênero e a Psicodinâmica do Trabalho. O objetivo do quarto artigo foi compreender as repercussões de sexo/gênero, raça e classe no cotidiano laboral e na mobilização subjetiva das trabalhadoras. Evidenciamos que a suspeição no trabalho ou no trabalhar, a sobrecarga de trabalho e o ritmo frenético de execução da atividade, a ameaça ou ocorrência do assédio sexual são algumas das situações detectadas no cotidiano das diaristas e, que, estão engendradas nas insígnias, relações e condições materiais decorrentes das diferenciações/hierarquizações de raça, sexo/gênero e classe. Ademais, identificamos entre as diaristas processos de naturalização ou de assimilação dessas diferenciações/hierarquizações que repercutem em suas condutas individuais e coletivas, embora também tenham sido observados movimentos de resistência ou inflexão. O objetivo do quinto artigo foi analisar os impactos do contexto pandêmico sobre a atividade laboral e a saúde mental de mulheres trabalhadoras domésticas diaristas, levando em consideração a interseccionalidade entre sexo/gênero, raça e classe no trabalho. Os achados refletem o papel das desigualdades de sexo/gênero, raça e classe no agravamento das condições de trabalho/vida das mulheres diaristas e as consequências negativas sobre a saúde delas. As vivências pandêmicas dessas trabalhadoras são marcadas por extremas dificuldades de subsistência, novos dilemas ou riscos e a atualização das microopressões nas relações laborais, que suscitam para elas vários mal-estares, desde ansiedade à sentimentos de inferioridade. A combinação dos artigos fornece elementos de inteligibilidade sobre a condição de mulher trabalhadora doméstica diarista e de sua relação com a configuração das vivências subjetivas e a qualidade da saúde das participantes da pesquisa. Além disso, nos convida a refletir de forma crítica e inventiva acerca das dificuldades ou caminhos de enfrentamento das disparidades de sexo/gênero, raça e classe, que permeiam substancialmente as questões de trabalho/de vida das diaristas.