Paleoambiente e quimioestratigrafia da Formação Serra do Quilombo, Neoproterozóico da Faixa Paraguai Norte, regiões de Cáceres e Nobres (MT)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: MILHOMEM NETO, João Marinho lattes
Orientador(a): MACAMBIRA, Moacir José Buenano lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica
Departamento: Instituto de Geociências
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/11446
Resumo: Após a última glaciação criogeniana (ca. 635 Ma), extensas plataformas carbonáticas desenvolveram-se sobre diversas regiões cratônicas da Terra. Apesar da intensa dolomitização de parte desses depósitos, muitos dos processos sedimentares e paleoceanográficos podem ainda ser resgatados, contribuindo no entendimento do paleoambiente e da composição isotópica da água do mar durante o Neoproterozóico. Um dos exemplos mais importantes deste período no Brasil é a Formação Serra do Quilombo, pertencente à porção superior do Grupo Araras, no segmento norte da Faixa Paraguai, sul do Cráton Amazônico. Esta unidade tem sido interpretada, em sua seção-tipo na região de Cáceres, estado do Mato Grosso, como representante de depósitos de plataforma moderadamente rasa a profunda influenciada por sismos e tempestades. A análise de fácies e estratigráfica, em combinação com dados de isótopos de C, O e Sr nas regiões de Cáceres (seção-tipo) e Nobres, permitiu reavaliar e ampliar estas interpretações paleoambientais e paleoceanográficas, visando à construção de um arcabouço quimioestratigráfico para a unidade. A sucessão estudada possui aproximadamente 140 m de espessura e inclui a Formação Serra do Quilombo e seus contatos com unidades adjacentes, a Formação Guia na base e Formação Nobres, no topo. Nessa sucessão foram descritas 5 fácies deposicionais que correspondem a dolomito fino laminado rico em matéria orgânica (Dl), dolomito fino maciço a laminado (Dml), dolomito arenoso com estratificação cruzada hummocky/swaley associada com estratificação plano-paralela (DAh), dolomito arenoso/oolítico com laminações produzidas por ondas (DAl) e brecha dolomítica com matriz (BDm). As fácies sedimentares foram agrupadas em duas associações de fácies (AF) que indicam ambientes de plataforma carbonática moderadamente profunda (AF1: Dm e Dl) e face litorânea influenciada por tempestades (AF2: DAh, DAl e BDm). A Formação Serra do Quilombo compõe uma sucessão de raseamento ascendente (shallowing upward), que representa o registro progradante de um trato de sistema de mar alto, em um contexto de rampa carbonática homoclinal instalada no sul do Cráton Amazônico durante o Ediacarano. As análises de C e O foram realizadas em 141 amostras (dentre calcários e dolomitos finos, dolomitos arenosos/oolíticos, além de clastos, cimento e matriz de brechas dolomíticas), das quais, 6 foram também selecionadas para análises de Sr. Estudos de elementos maiores (Ca, Mg e Fe) e traços (Rb, Sr e Mn), realizados em 20 amostras, auxiliaram na seleção daquelas para análise isotópica de Sr e na avaliação da natureza primária do sinal isotópico dos carbonatos estudados. Os valores de δ13C, interpretados como representativos da água do mar original, apresentam uma tendência que varia desde negativa, em torno de -2‰, na base da sucessão (Formação Guia), até composições enriquecidas de δ13C em direção ao topo da sucessão estudada, atingindo valores acima de 0‰. A seção-tipo da Formação Serra do Quilombo apresenta uma curva homogênea de isótopos de C, com valores de δ13C em torno de 0‰, o que permite sua perfeita correlação com outras sucessões como, por exemplo, sua seção de referencia em Nobres, distante cerca de 200 km. As razões 87Sr/86Sr seguem a tendência geral dos isótopos de C, com valores crescentes em direção ao topo da sucessão, variando de 0,7077 até 0,7083, diretamente relacionados com o raseamento dos ambientes e o consequente influxo de grãos siliciclásticos registrado na porção superior da unidade (AF2). Os dados de δ13C e δ18O obtidos para as brechas dolomíticas com matriz (BDm) indicam, em geral, uma similaridade entre o sinal isotópico, tanto da matriz quanto dos clastos, sugerindo sua natureza primária e sindeposicional. Por outro lado, para as brechas dolomíticas cimentadas, os valores obtidos para os cimentos de dolomita espática indicam menores valores de δ13C e, notadamente, de δ18O em relação aos clastos, sugerindo que sua origem é secundária, provavelmente resultante da interação com águas meteóricas ou fluidos hidrotermais durante o processo de formação das brechas. A implantação de uma plataforma carbonática moderadamente profunda a rasa com padrões isotópicos de C tendendo a valores positivos, distiguem-se dos depósitos pós-glaciais da base do Grupo Araras, com valores de C fortemente negativos, e podem representar o restabelecimento das condições normais de sedimentação. Da mesma forma, a tendência crescente da razão isotópica de Sr indica o aumento do influxo continental num cenário já completamente desprovido da influência glacial (Snowball/slushball Earth hypothesis). Os valores de Sr apontam idade ediacarana, entre 560 e 580 Ma, para a deposição da Formação Serra do Quilombo.