O corpo escalpelado: possibilidades e desafios docentes no cotidiano de meninas ribeirinhas na Amazônia paraense

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: ALMEIDA, Edwana Nauar de lattes
Orientador(a): HAGE, Salomão Antonio Mufarrej lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal do Pará
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação
Departamento: Instituto de Ciências da Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/8474
Resumo: O acidente por escalpelamento é uma triste realidade que ainda faz parte do cenário amazônico paraense ribeirinho, apesar de todos os esforços empreendidos para a sua erradicação. O escalpelamento consiste no arrancamento parcial ou total do couro cabeludo, inclusive de orelhas e pálpebras, que acontece dentro de pequenas embarcações rudimentares, com o motor adaptado na parte central do barco. As vítimas, na sua maioria meninas e mulheres, quando próximas do motor, ao menor descuido, têm seus cabelos enroscados no eixo e brutalmente arrancados. Em decorrência do acidente, tornam-se pessoas marcadas em sua aparência física e, sem exceção, sofrem trauma psicológico e social, foco de curiosidade, estranhamento e preconceito devido ao estigma de serem escalpeladas. A questão é preocupante porque dados estatísticos indicam ainda a incidência desses acidentes. Além das dificuldades causadas em função do longo tratamento, a criança/jovem enfrentará preconceitos também no ambiente escolar ao retornar ao seu município de origem. Neste sentido, este estudo apresenta como temática a ação pedagógica dos (as) professor (as) para a inserção social de meninas vítimas de escalpelamento, de modo que possamos compreender os sentidos e significações que se manifestam (implícita ou explicitamente), suas limitações, possibilidades e desafios no cotidiano escolar. Trata-se de uma pesquisa de campo com professores (as), de abordagem qualitativa descritiva, tendo as narrativas autobiográficas como referencial teórico-metodológico a fim de direcionar a investigação visando desvelar o material subjetivo presente na vivência desses sujeitos. Nosso intuito é compreender a produção de saberes, sentidos e significados que se manifestam nas ações docentes, necessitando para tanto operar com a subjetividade, a perspectiva e os modos particulares que estes se relacionam com a menina mutilada, buscando extrair dos docentes elementos que identifiquem limites e possibilidades para o processo pedagógico. As análises demonstram ausência de formação profissional por parte dos(as) professores(as) para lidar com as questões que envolvem os processos de aceitação e reconstrução da autoimagem das meninas/ vítimas, uma vez que não há planejamento para lidar com as condutas preconceituosas e discriminatórias dos(as) alunos(as), reforçando o entendimento de que os sentidos do agir docente baseiam-se em juízos fundamentados não apenas nos padrões, normas sociais ou valores morais impostos e apreendidos nos seu contexto sociocultural desde sua infância, mas em juízos práticos fundamentados nas emoções, desejos, dores, sentimentos, afetos e experiências para tomar uma decisão interventiva. Assim, os sentidos que guiam as ações docentes carregam traços da sua personalidade profissional, onde se ancoram a sua habilidade de saber-fazer - saberes experienciais que brotam e são validados na práxis cotidiana -, mas também na habilidade de saber-ser, saberes de sua própria história de vida. É nesse contexto que as ações pedagógicas com a menina/vítima,ganham contornos particulares, muito mais relacionados à negociação, improvisos e adaptações do que propriamente a técnicas científicas previamente concebidas, ditadas pelo intelectual e acadêmico, mas pela condição de humanidade, sentimentos e afetividade que mobiliza e modela as interações. Sua ação fundamenta-se em sua práxis social, que é complexa, entrelaçada de subjetividades, representações e interações simbólicas, permeadas de incertezas e implicações éticas.