A produção de corpos trans e suas interseções com os processos saúde-doença: efeitos (in)desejáveis e autonomia dos corpos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Brandão, Brune Coelho lattes
Orientador(a): Perucchi, Juliana lattes
Banca de defesa: Prado, Marco Aurélio Máximo lattes, Oliveira, Marcella Beraldo de lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Psicologia
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/3631
Resumo: Os estudos sobre as chamadas “transformações de gênero”, em seus primórdios, eram caracterizados por concepções que priorizavam entender as bases biológicas do gênero, vendo esse processo como algo da ordem do não-natural, com base em uma naturalização de um sexo dado pela natureza. Os primeiros estudos antropológicos eram marcados por definições anatomo-fisiológicas, que insistiam na ideia de patologização das performances trans, consideradas como distúrbios. Com o avanço dos estudos feministas, houve uma cisão entre os conceitos de sexo e gênero, possibilitando um enfoque mais voltado para a construção de realidades sociais e identitárias. Percebe-se mudanças nos estudos acerca de corpo, gênero e sexualidade, pressionando o campo de estudos do feminismo a reconhecer o caráter social e não biologizante do gênero. Com base na teoria queer, propõe-se romper os binarismos fixos de gênero e questiona-se o alinhamento tido com natural entre sexo-gênero-orientação do desejo como única via possível de normalidade. Em termos de assistência à saúde, estudos mostram que a organização dos serviços de saúde é voltada para uma população heterossexual, pautados em uma heteronorma que negligencia as necessidades específicas em saúde da população LGBT. Nesse sentido, travestis, transexuais, homens trans e pessoas intersexuais são negligenciadas de acesso pleno e integral à saúde pela concepção reducionista que profissionais da saúde ainda tem, com foco apenas nos processos de adoecimento, negligenciando as demandas específicas de alteração corporal de cada pessoa ou reproduzindo modelos que biologizam os gêneros dentro de um binarismo convencionado para definir corpos masculinos e femininos, que devem ser excludentes entre si. Assim, a presente pesquisa pretendeu compreender as relações existentes entre a construção do corpo de transexuais, trans homens e pessoas intersexuais e os possíveis impactos sob seus processos de saúde. Sua natureza é qualitativa, com um desenho exploratório. As fontes foram incluídas como informantes da pesquisa de acordo com os seguintes critérios: se reconhecer enquanto travesti, transexual ou em algum processo de trânsito de gênero; possuir mais de 18 anos; fazer uso de dispositivos na construção do seu corpo. Como forma de acesso a essa população, buscou-se realizar uma imersão a campo de inspiração etnográfica, com base na observação participante. O grupo de apoio e militante do projeto já em andamento facilitou esse trabalho, visto que a pesquisadora já trabalha no grupo enquanto facilitadora e tem uma rede de informantes em potencial. Com base nisso, selecionou-se três histórias que comporam o campo de análise dessa pesquisa: uma mulher transexual, um homem trans e um homem intersexual. Com base na metodologia de história de vida e história oral, foram realizadas entrevistas individuais que permitiram problematizar aspectos concernentes aos processos de construção corporal dessas pessoas e suas intersecções com o sistema de saúde público. A análise do material coletado foi orientada pelo método de análise do discurso, de enfoque foucaultiano, que busca constatar o lugar ocupado pelos jogos de verdade, pelas relações de poder e, sobretudo, pelas formas de relação do sujeito consigo e com os outros, na construção de um campo de experiências corporais de transexuais, trans homens e intersexuais e suas possíveis interseções com a saúde. Percebe-se, que ainda há uma patologização de corpos que ocupam a fronteira da cisnormatividade, com base na naturalização de que há uma verdade ontológica materializada pelo binarismo sexual que irá definir o corpo e o gênero das pessoas. Toda essa concepção orienta as políticas de saúde pública acerca de pessoas transexuais e intersexuais, que tem sua autonomia cirúrgica e interventiva sobre o corpo cercada pelos dispositivos de saber-poder biomédicos, jurídicos e psicológico, que vão legitimar seus corpos e suas existências através de suas orientações.