Por espacialidades de trans-existência: trânsitos entre os cistemas normativos e a (re)apropriação do corpo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Barbosa, Ana Carolina Santos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/33744
Resumo: Esta tese busca evidenciar como tensionamentos espaciais ocorrem nos trânsitos de produção dos corpos. Especialmente, quando nos referimos às identidades trans e travestis tratamos das intercorrências entre as buscas legítimas e autônomas por existência e os constrangimentos heterônomos por elas experimentados em função da reprodução da cis- heteronormatividade. Para cumprir tal objetivo, estamos referendados em epistemologias assentadas no campo das Geografias Feministas, em diálogo mais direto com as interseções promovidas pelos feminismos negro e trans. Dessa forma, tecemos uma cartografia de escuta, na qual através de corporalidades posicionadas, construímos um campo registrado através de anotações e transcrições que geraram 720 evocações organizadas em um banco de dados no LibreOffice. As categorias espaciais e discursivas, pensadas à luz de Bardin (1977), cumprem, nesse contexto, o papel de compartilhar o processo metodológico e apurar uma escuta implicada e referenciada pelas premissas de um feminismo ético. Ir às raízes dos tensionamentos e das violências vividas por mulheres trans e travestis implica, todavia, o reconhecimento do corpo como espaço primeiro de existência. As falas das interlocutoras da pesquisa reafirmam a tessitura de corpos discursivos e abertos, marcados por relações de poder instituídas, ou seja, em trânsito (construção permanente). As concepções de espaço, notadamente trabalhadas a partir de Massey (2013), forneceram-nos elementos para (re)pensar trajetórias marcadas desigualmente na construção das infâncias e juventudes trans, nas quais identidades de gênero são interseccionadas a marcadores como raça, localização geográfica, expressão de gênero, classe e idade. Este último marcador compõe, portanto, o período da vida em que as sujeitas se afirmam publicamente compondo um espaço-tempo de maior opressão sob as bases de uma organização socioespacial binária e cisgênera. Por fim, ainda refletindo sobre a (re)produção multiescalar, por meio da qual atua a cisnormatividade, propomos uma reflexão através da tríade avistamento, práticas de vigilância e os próprios sítios corporais não apenas para entender as manifestações públicas de violências, mas, sobretudo, para imaginar através das arquiteturas construídas a contrapelo por mulheres trans e travestis horizontes possíveis de existência. O impulso cartográfico que desenhou esse mapeamento parte dos saberes trans e travestis que circularam na tese a partir de autorias acadêmicas, artísticas e de uma produção oriunda dos nossos encontros com essas sujeitas, de modo que a produção de imaginações geográficas que fissuram a norma e evidenciam as falências de um mundo opressor e violento fincado sob bases cis-heteronormativas, tem produzido também de forma paradoxal espaços de possível. Esses horizontes (éticos) e heterotópicos (FOUCAULT, 2013), ainda inconclusos, à medida que estão em construção, representam para nós locais de afeto, segurança e construção de redes grafados na cidade e em seus próprios corpos.