A Constituição do sujeito surdo na cultura Guarani-Kaiowá: os processos próprios de interação e comunicação na família e na escola

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Coelho, Luciana Lopes lattes
Orientador(a): Bruno, Marilda Moraes Garcia lattes
Banca de defesa: Nascimento, Adir Casaro lattes, Suttana, Renato Nésio lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Grande Dourados
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Educação
Departamento: Faculdade de Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/620
Resumo: A interface da educação especial na educação indígena é um campo novo e complexo de investigação, traça fronteiras ainda não definidas entre dois campos de conhecimento em constituição. Dessa forma, o objetivo geral deste estudo foi investigar a constituição do sujeito surdo na cultura Guarani-Kaiowá e compreender os processos de interação e comunicação na família e na escola. Os objetivos específicos foram: a) Conhecer a concepção da surdez na cultura Guarani-Kaiowá e os seus impactos no processo de socialização; b) Identificar os processos próprios de comunicação, verificando a presença de sinais caseiros utilizados na comunicação e/ou a existência de uma língua de sinais emergentes; c) Descrever as formas de interação e comunicação na família e na escola. Trata-se de pesquisa qualitativa com delineamento teórico metodológico fundado nos estudos culturais. Os procedimentos para coleta de dados foram: análise de documentos que legalizam e normatizam a oferta da educação diferenciada indígena no Brasil e no estado de Mato Grosso do Sul assim como os que dispõem sobre a educação de surdos no Brasil; observação participante nos contextos familiares e nas escolas diferenciadas indígenas dos municípios de Amambai, Paranhos e Coronel Sapucaia; comunicação espontânea com indígenas surdos e seus familiares; entrevistas semi-estruturadas individuais e/ou grupal com professores, coordenadores pedagógicos e gestores; registro em áudio, fotografias e em diário de campo. As análises permitiram situar o sujeito indígena surdo em uma cultura diferenciada e compreendermos as relações estabelecidas entre as culturas em contato e as línguas usadas nas aldeias estudadas. Identificaram-se também as possibilidades e as necessidades específicas e de comunicação no ambiente familiar e escolar. Os resultados apontaram que os sujeitos surdos não interagem no ambiente social e escolar da mesma forma que as crianças ouvintes, devido às barreiras lingüísticas enfrentadas. A comunicação dessas pessoas restringe-se à utilização de sinais caseiros e icônicos com as pessoas da família, colegas e professores. Dos 8 indígenas surdos identificados, 3 freqüentam a escola indígena. Apenas 2 indígenas dominam satisfatoriamente a língua guarani e a utilizam no ambiente familiar e escolar. Os dados indicam que cinco sujeitos em idade escolar não estão alfabetizados. Observou-se que as práticas educativas das comunidades não têm contemplado a diferença lingüística das pessoas surdas. Os profissionais da educação apontaram que: os gestores da educação especial nos municípios desconhecem a realidade enfrentada pelos professores na sala de aula; os professores não sabem identificar as deficiências ou necessidades dos alunos; não existe apoio para a elaboração de estratégias de ensino que respeitem a metodologia de ensino dos povos indígenas; faltam orientações aos professores sobre o trabalho com pessoas surdas; existe carência de recursos materiais pedagógicos específicos. Conclui-se que os indígenas surdos precisam dominar uma língua de sinais que lhes permitam a comunicação entre si e a comunidade indígena e a envolvente, o acesso à informação e à linguagem escrita para chegarem à níveis mais elevados de ensino e a compreensão da realidade em que vivem. Por fim, a efetivação do direito à educação da população surda passa pela abertura de espaço para o debate, reflexões, articulação entre os dois campos de conhecimento e o diálogo entre as diferentes culturas.