A Criança indígena surda na cultura Guarani-Kaiowá: um estudo sobre as formas de comunicação e inclusão na família e na escola

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Lima, Juliana Maria da Silva lattes
Orientador(a): Bruno, Marilda Moraes Garcia lattes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Grande Dourados
Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Educação
Departamento: Faculdade de Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/644
Resumo: Pesquisas sobre infância indígena relatam que as crianças participam ativamente em todos os espaços sociais e culturais como atores e produtores de conhecimentos. No entanto, o lugar que ocupa a criança indígena surda nesses espaços ainda é desconhecido. Assim, este estudo teve como objetivo geral investigar as formas de comunicação e inclusão da criança surda indígena no contexto familiar e escolar das Aldeias Bororó e Jaguapiru, em Dourados, MS. Os objetivos específicos foram: a) Compreender como a criança indígena surda se relaciona e se comunica na família e na escola; b) Identificar as facilidades e dificuldades encontradas nas formas de comunicação e inclusão da criança indígena surda; c) Descrever as ações e estratégias utilizadas pela família e pela escola para a comunicação e efetivação da inclusão da criança indígena surda nesses sistemas. Trata-se de pesquisa qualitativa de cunho etnográfico por meio da observação participante, cujas bases conceituais são os estudos culturais e as premissas do desenvolvimento humano ecológico de Bronfenbrenner (1996), pautadas na interdependência entre os diferentes contextos de socialização e culturas familiares como determinantes no desenvolvimento infantil. Participaram deste estudo: cinco crianças surdas, sendo duas meninas e três meninos; dois pais de crianças surdas; duas mães; duas irmãs, e, por fim, quatro professores indígenas que atendem ou que já atenderam a crianças surdas. Os procedimentos e os instrumentos para coleta e análise de dados envolveram: o registro no diário de campo, as imagens fotográficas da comunicação entre crianças e seus familiares; entrevistas semiestruturadas e conversas informais com os professores indígenas e os familiares das crianças indígenas surdas. As imagens fotográficas das senhas foram descritas e traduzidas para a escrita de sinais, tendo em vista a análise dos indícios de comunicação em língua de sinais. Os resultados revelaram que: a) a criança surda interage e se comunica na família por meio de sinais icônicos, participa das brincadeiras com os irmãos e pares na escola; observa-se ausência do fogo doméstico, espaço de socialização, de vínculo na parentela e transmissão cultural; b) os pais relatam dificuldade na comunicação com seus filhos surdos, realizam-na por meio de apontamentos em situações emergenciais do cotidiano; os professores indígenas apontam como facilidade a presença do intérprete de Libras, que supre a falta de diálogo entre o professor do ensino comum e o aluno surdo; indicam como dificuldade a falta de formação específica para a educação dos surdos; c) as estratégias utilizadas pela família consistem na atuação dos irmãos que se comunicam de maneira mais efetiva, utilizam senhas e alguns sinais simples da Libras; estes assumem a responsabilidade de mediar a comunicação e a inclusão da criança surda na família e na escola; a estratégia utilizada pela escola constitui-se na presença do intérprete de Libras nas escolas, como mediador entre os professores indígenas e o aluno surdo. Evidencia-se, a partir das narrativas dos professores, a solicitação de uma gestão própria de educação especial nas escolas, para orientações aos professores e formação continuada quanto às necessidades específicas desses educandos. Por fim, constata-se que o lugar ocupado pela criança indígena surda na cultura guarani-kaiowá ainda é de invisibilidade, perpassado pelas representações sociais da impossibilidade da fala, da aquisição de conhecimento e assimilação da cultura tradicional, fatores esses determinantes na constituição das identidades culturais e linguísticas. Nesses contextos, marcados por contradições e posturas ambivalentes de pais, professores e gestão escolar, emerge a necessidade de constantes negociações, troca de saberes entre todos os envolvidos, tendo em vista possibilitar condições favoráveis à aprendizagem das crianças indígenas surdas, ao desenvolvimento das potencialidades linguísticas, cognitivas e socioculturais.