Zonas de te(n)são entre desejo e nojo: cisgeneridade como paradigma de subjetivação sexual

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Silva, Mariah Rafaela Cordeiro Gonzaga da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/28695
Resumo: O Brasil é o país que mais mata mulheres trans no mundo, segundo dados da ONG Transgender Europe Monitoring e da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). É também um dos países onde mais se consome pornografia com travestis e transexuais, conforme indicam estatísticas de sites como Pornhub e RedTube, e amplamente divulgado pela mídia nacional. Diante dessa aparente contradição, esta tese tem o objetivo de questionar alguns tipos de relações de poder que são negociadas nessas complexas zonas de te(n)são entre nojo e desejo, agenciadas em densos processos de produção de subjetividades e sociabilidades, tendo como base uma política dos corpos e dos gêneros, chamada de cisgeneridade. Então, cabe perguntar: se o problema da violência contra pessoas trans tem como base as rupturas com as normas de gênero que ainda vigoram em nossa sociedade, haveria uma certa produção do desejo sendo estimulada e ao mesmo tempo reprimida? A partir dessa questão fundamental, esta tese indaga como tem se dado a representação dos corpos trans na indústria audiovisual brasileira, e como esses modos de representação vêm produzindo efeitos para a construção de um “sujeito sexual” que é “resultado” de um modo de subjetivação coletiva. Procurando compreender qual é a relação entre essas dinâmicas de representações e a cisgeneridade, proponho dois conceitos analíticos para ajudar nesse diagnóstico: a propaganda cisgênera e o olhar cis. Ambos os dispositivos acionam máquinas semióticas como forma de regular os regimes de representação em suposto favor da cisgeneridade. Parte-se de uma reflexão teórica e de um trabalho empírico, que envolve o estudo de material audiovisual, notícias de jornal, desenhos animados, revistas e outros produtos midiáticos em que comparecem pessoas transexuais, principalmente entre 1950 e 2021. Através desses exemplos, busco compreender de que maneira as transexualidades são investidas em um conjunto de práticas discursivas, imagéticas e cognitivas. Essas práticas classificam e produzem a diferença, sobretudo em termos de gênero e sexualidade, a partir de uma reflexão acerca da indústria pornográfica como máquina de subjetivação sexual. Deste modo, esta tese questiona as relações de poder que se dão na te(n)são entre desejo e nojo no processo de subjetivação sexual no atual contexto brasileiro, tendo como base metodológica a cartografia. Um passo prévio e crucial para embasar essa proposta, porém, consiste em esboçar uma genealogia da cisgeneridade. Portanto, através dos métodos genealógico e cartográfico, pretende-se averiguar como a cisgeneridade se estabeleceu como uma “verdade biológica” dos corpos. Ou seja, de que forma e através de quais mecanismos, o corpo cisgênero foi inventado como paradigma de “normalidade”, e quais são as ressonâncias desse tipo de regime para o modelo da governamentalidade social vigente no Brasil, configurando a violenta junção entra desejo e abjeção a respeito da transexualidade, fazendo surgir uma verdadeira te(n)são necrossexual como paradigma da estimulação no campo do desejo.