Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Medrado, Andreone Teles |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
|
Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
|
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Não Informado pela instituição
|
Palavras-chave em Português: |
|
Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-18122024-161824/
|
Resumo: |
A sexualidade, sobretudo no que se refere à orientação sexual, emerge como uma dimensão fundamental da existência humana, influenciando amplamente a vida das pessoas, desde as escolhas de parcerias afetivas e sexuais, bem como outras interações sociais, até a autopercepção das emoções e a sensação de pertencimento no mundo. Entre as emoções que nos aproximam e nos afastam das pessoas, dos animais e das coisas, uma delas é o nojo. O nojo pode ser definido como reação a algo repulsivo: principalmente em relação ao sentido do paladar, como realmente percebido ou vividamente imaginado. O nojo está associado a atitudes individuais negativas com relação à vacinas, xenofobia, racismo, transfobia, mas também à abertura para relacionamentos sexuais e várias outras interações sociais, inclusive comportamento e preferências sexuais, seleção de parceiros e coesão de grupo. A presente Tese de doutorado encontra-se estruturada em duas partes, ambas situam-se ao redor do tema sexualidade humana. Nesse sentido, o principal objetivo deste trabalho, na Parte I, é fornecer um levantamento teórico sobre as diferentes orientações sexuais tal como estudadas dentro do campo da Psicologia e da Sexualidade, envolvendo por vezes conceitos de áreas do comportamento humano, e com diálogos na perspectiva da biologia (como fisiologia, etologia, evolucionismo, entre outras vertentes). A primeira parte desta Tese conta com três textos que abordam I) as definições e mensurações da orientação sexual, II) a bissexualidade masculina e III) questionamentos sobre os aspectos natural e antinatural não raramente presentes em debates sobre a homossexualidade. Portanto, foram explorados os aspectos psicológicos da orientação sexual, considerando-a de modo multidimensional, ou seja, levando em conta que ela pode ser estudada a partir de pelo menos quatro dimensões: identidade sexual, comportamento sexual, desejo/fantasia sexual e ativação/excitação fisiológica. Ao longo do trabalho, foram feitos levantamentos teóricos, fornecendo definições detalhadas sobre orientação sexual, desde estudos em animais humanos a não-humanos. Nossos levantamentos destacam a importância de entender a orientação sexual em um espectro amplo e interseccional, levando em conta as diversas variáveis que influenciam sua expressão, como identidade de gênero, sexo assignado ao nascimento, desejo e aspectos sociais mais amplos (como preconceito sexual). Na Parte II, que traz como tema central o nojo, os principais objetivos foram I) realizar uma investigação transversal das diferenças interindividuais, investigando a relação entre o nojo e a sociossexualidade (inclinação para o sexo casual), e II) uma investigação da variação intraindividual para testar o efeito da indução experimental do nojo sobre o desejo por sexo casual e sobre atração sexual. No experimento, foram analisados dados de autorrelato coletados online de 820 pessoas brasileiras de diferentes identidades de gênero (mulheres, homens, pessoas não binárias) e orientações sexuais (gays, heterossexuais, bi/pansexuais). Essas pessoas indicaram a disposição em se envolver em sexo casual e informaram a atração sexual por homens, mulheres e pessoas não binárias antes e depois de serem expostos a estímulos nojentos em cada condição experimental (nojo sexual, nojo de patógeno, nojo moral, controle neutro e grupo romântico). Os dados foram analisados usando o software IBM SPSS, versões 25 e 26. No teste da influência do nojo, da identidade de gênero, do sexo atribuído no nascimento e da orientação sexual na sociossexualidade, executamos um conjunto de Modelo Linear Generalizado com a pontuação da Sociossexualidade Global como variável dependente, e identidade de gênero, sexo atribuído no nascimento ou orientação sexual como preditores, juntamente com as três dimensões do nojo. No experimento, foi realizada uma ANOVA de medidas repetidas 2x5 com um fator intrasujeitos (desejo por sexo casual e atração sexual por homens, mulheres e pessoas não binárias; pré e pós-manipulação) e um fator entre-sujeitos (cinco condições experimentais) para avaliar o efeito do nojo induzido experimentalmente e determinar se esse efeito diferia de acordo com as condições experimentais. Testamos a confiabilidade do experimento comparando a média das respostas gerais da amostra (pré e pós-manipulação). Corroborando estudos anteriores, foi encontrado que o nojo se correlaciona negativamente com o desejo por sexo casual. Ou seja, pessoas com maiores escores de nojo (principalmente nojo sexual e de patógenos) apresentaram menor abertura a praticarem sexo casual. Esse efeito foi observado em todos os grupos estudados (homens, mulheres e pessoas não binárias, de diferentes orientações sexuais: heterossexuais, bi/pansexuais e homossexuais), embora com variações individuais. Especificamente, mulheres mostraram níveis mais altos de nojo sexual em comparação aos homens e às pessoas não binárias; enquanto pessoas bi/pansexuais apresentaram maiores pontuações para sociossexualidade em comparação com outras orientações sexuais. Na parte experimental, a exposição a estímulos visuais de nojo (sobretudo de nojo sexual) diminuiu o desejo por sexo casual na nossa amostra, sugerindo que os níveis de nojo induzidos influenciam o desejo sexual, ainda que num contexto mais imediato. Entretanto, a atração sexual se mostrou mais estável, uma vez que mesmo diante desses estímulos as mudanças foram menos marcadas, mas com mulheres reportando menor atração sexual por homens após serem expostas a estímulos de nojo sexual. Esses resultados, em diálogo com os aportes feitos sobre orientação sexual, oferecem uma compreensão mais profunda das relações complexas entre nojo, sociossexualidade e comportamento sexual, contribuindo para o campo de estudos sobre a sexualidade humana. Assim, esta Tese amplia o nosso entendimento sobre orientação sexual e sobre suas dimensões, pois, além de fornecer dados importantes para futuras investigações, reitera o papel do nojo como um potencial agente na escolha por parcerias sexuais e em comportamento sexual. Ademais, considerando que o nojo exerce uma influência sobre o desejo por relações sexuais, ainda que isso seja menos proeminentemente na atração sexual, em estudos futuros pode ser interessante pensar o nojo como uma medida importante, mesmo que negativamente, a ser considerado na mensuração geral da orientação sexual. Dessa forma, espera-se que este trabalho sirva como aporte para estudos adicionais, mas também para o desenvolvimento de práticas e políticas que respeitem e valorizem a diversidade sexual, promovendo um ambiente social mais inclusivo e compreensivo. |