Que das trevas se faça a luz : a fratura e renascimento do cânone

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Silva, Lucas Calil Guimarães
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/9974
Resumo: O universo das manifestações semióticas – ou seja, dos atos enunciativos que pro-duzem efeitos de sentido – se organiza, segundo Fontanille (2015), a partir de for-mas de vida que regulam e determinam os valores e estratégias aceitos e reconhe-cidos socialmente. No espaço cultural em que indivíduos e coletividades intera-gem, ocorre a concordância entre sujeitos, na reprodução de sentidos já canônicos, e a emergência inesperada, em oposição às estruturas semióticas canônicas, de enunciados de natureza inovadora frente ao núcleo social em que se inserem. O processo de emergência do anticanônico obedece, sob o ponto de vista social, a re-gras de difusão (GRANOVETTER, 1973) e de articulação vetorial entre forças dota-das de capital global (BOURDIEU, 2015), de modo que o despertar de uma descon-tinuidade sobre uma continuidade depreende, sob a perspectiva semiótica, a re-configuração de formas de vida anteriormente estabelecidas. Estas, se aceitas cole-tivamente, podem posteriormente se converter em práticas e em outras formas de vida canônicas, em processo que se inicia com isolado acento concessivo de rejei-ção ao cânone e se alastra à replicação, para além do estilo autoral de origem, por outros indivíduos que reconhecem a estratégia inovadora enquanto admissível. Esse jogo entre cânones e inovações perpassa as semiosferas (LOTMAN, 1999), os espaços em que as linguagens se articulam socialmente, com os centros ocupando o locus moderador das práticas e estratégias, e as periferias, o local de irrupção dos discursos inovadores. E, para que a inovação seja aceita entre as formas de vida centrais, faz-se necessária, pela enunciação, com o entendimento aspectual de oposição entre o nós e o eles, a convocação de valores que não impliquem completa rejeição, em conformidade com os regimes de crença que determinam cultural-mente o que é crível e o que é inacreditável. Com a expansão espaço-temporal da inovação, seguindo o modelo tensivo (ZILBERBERG, 2011) de anulação da singula-ridade do acontecimento, o objeto inicialmente insólito se propaga e se reorganiza como nova forma de vida, com coerência – quanto ao plano de expressão – e con-gruência – quanto ao plano de conteúdo. O percurso que ilustra e exemplifica esse processo de fratura e estabilização do cânone se abre com a releitura (CALIL, 2014) das manifestações relacionadas à escuridão pelo preto e pela ausência de ilumina-ção; posteriormente, as etapas de reconstrução do cânone (ruptura inicial; renova-ção; estabilização) analisam, em diferentes objetos e níveis de pertinência, de que forma as isotopias regularmente reiteradas pela escuridão canônica (a solidão, a morte, a violência, a cegueira) são recobertas pela brancura e pela exaberbação de luminosidade