Economia moral dos corpos em Niterói: fissuras na cidade cis-heteronormativa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Aquino, Igor Melo de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/28052
Resumo: O entendimento científico das temáticas relacionadas ao corpo humano a partir do século XVIII foi inspirado, senão meramente adaptado, nas grandes narrativas naturalistas que irradiavam luzes inaugurais sobre os mistérios da Natureza, dessacralizando-a para torná-la objeto de um entendimento secularizado. É na época do naturalismo científico que a cis-heteronormatividade é estabelecida como critério biomédico de normalização para guiar as instituições sociais da modernidade responsáveis pela regulação e manutenção das vidas coletivas nas cidades. Toda uma economia moral dos corpos é desenhada a partir deste novo contexto normativo em que o corpo não deve ser empregado em excessos, bem menos faltar com suas funções reprodutivas. O modelo dessa austera economia requer um eficaz ordenamento das identidades corporais: este é o papel das instituições disciplinares para o arranjo de uma sociedade que disponha de corpos dóceis e úteis, criando para isto um modelo de alinhamento binário e compulsório entre sexo e gênero. Assim, esta economia normativa orienta o ordenamento territorial disciplinar das cidades modernas, uma estratégia que realiza uma política de controle dos corpos através da política de dispositivos de controle do espaço. O insidioso controle pelo qual os corpos são monitorados e ordenados nas cidades fazem do urbano de nosso tempo o campo por excelência de exercício deste poder ordenador das coletividades humanas. É precisamente neste espaço de projetos hegemônicos de normalização econômica das experiências corpóreas do espaço urbano que múltiplos movimentos de resistência e dissidência da linearidade compulsória sexo-gênero criam as brechas, exploram os interstícios do poder, os pontos cegos, as contradições, os excessos, as vulnerabilidades e provocam ambiguidades no jogo de posições espaço-corpóreas que reconhecemos como uma geopolítica da presença. No presente trabalho, analisaremos como os movimentos transidentitários disputam o espaço urbano de Niterói- RJ e, assim, abrem espaços intersticiais de resistência contribuindo para transformação das trajetórias de pessoas trans nesta cidade cis-heteronormativa. Apresentaremos estes conflitos urbanos da dissidência de gênero e sexualidade através dos movimentos sociais LGBTI+ na cidade de Niterói e, em seguida, iremos relacionar estes coletivos com o fortalecimento de práticas de resistência de sujeitos em suas experiências cotidianas. As resistências de corpos indóceis à cis-heteronormatividade disciplinar são também capazes de fissurar a hegemonia trans-excludente. As lutas pelo direito ao corpo constituem também lutas pela cidade que ocorrem através do próprio espaço urbano e, neste processo, elas dinamizam a pluralidade política capaz de abrir a cidade para outros sentidos possíveis de sociedade urbana.