A produção da ação coletiva no MST: relações de poder e subjetividade.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2007
Autor(a) principal: LAZZARETTI, Miguel Ângelo.
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
Brasil
Centro de Humanidades - CH
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
UFCG
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/2224
Resumo: O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é uma organização que luta pelo acesso à terra e pela melhoria da qualidade de vida das famílias assentadas sob sua coordenação. Neste sentido, este movimento tem produzido diversas formas de ações coletivas nos assentamentos no intuito de garantir que os agricultores possam se viabilizar econômica e socialmente. Sendo assim, o objetivo deste estudo é analisar a produção da ação coletiva do MST tendo em vista as relações de poder geradas nos assentamentos e a subjetividade dos assentados. A pesquisa está baseada em estudos de casos em dois assentamentos do estado da Paraíba: Mandacaru (na região do Semi-árido) e Massangana III (na região da Zona da Mata). Este estudo, amparado na teoria dos chamados "Novos Movimentos Sociais", introduzida por Touraine, entre outros, mostra como o MST procura impor à priori modelos de ações coletivas nos assentamentos, sem procurar primeiro compreender as realidades rurais brasileiras e tentar um diálogo estratégico entre as visões de mundo dos assentados e a ideologia do movimento. A pesquisa constatou que, nos projetos de assentamento acompanhados, os assentados do MST não têm correspondido em termos de aceitação, ao modelo teórico-ideológico norteador das práticas do movimento. Os estudos de caso mostram que nos dois assentamentos, apesar de haver uma identificação de algumas famílias com os ideais do MST, a sua expressão coletiva só pode existir se for construída a partir da interação entre os assentados e o movimento. A imposição de modelos de produção e de sociedade não combina com as trajetórias sociais, culturais e históricas das famílias assentadas. O sentido e o significado dado às ações coletivas pelos assentados não refletem os ideais de revolução e de sociedade socialista do MST. Essas conclusões apóiam-se sobre numerosas entrevistas, observações de campo e convívio com os assentados durante várias semanas nos dois assentamentos e sobre um minucioso estudo dos documentos internos e externos do MST desde sua fundação até o ano de 2005. Esses elementos comprovaram que a reforma agrária não é um fim em si para o movimento, mas um meio para atingir o tão sonhado ideal da sociedade socialista. Porém esse sonho está ausente do pensamento da maioria dos assentados entrevistados de Mandacaru e Massangana III. Por outro lado, o MST enfrenta dificuldades para a promoção de ações coletivas devido às atitudes e comportamentos de seus líderes que têm gerado relações de poder nos assentamentos, em função de favorecimentos ou de benefícios pessoais. Em Massangana III, as ações coletivas foram interrompidas devido a conflitos internos entre as próprias lideranças e os assentados, resultando no desenvolvimento do assentamento não mais na forma coletiva, mas sim individualizada e/ou familiar. Verificamos nos assentamentos estudados que os assentados possuem uma dívida moral com o MST gerada por uma relação de reciprocidade assimétrica produzindo respeito, obediência e dependência. Porém, outros valores humanos de solidariedade, amizade ou responsabilidade estão sendo gerados pelas relações locais. Elas se fundamentam no reconhecimento da luta pela terra do MST por um lado e pela mudança de estratégia de atuação dos líderes de outro. É o caso do Assentamento Mandacaru, onde há uma continuidade nas ações coletivas no assentamento por parte dos líderes locais que privilegiaram o diálogo, escutando, discutindo e implementando os projetos e pontos de vista dos assentados em primeiro lugar.