Vendo vozes e ouvindo mãos: o que os sinais caseiros nos dizem sobre aquisição de linguagem ou da linguagem

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Cerqueira, Ivanete de Freitas lattes
Orientador(a): Teixeira, Elizabeth Reis lattes
Banca de defesa: Teixeira, Elizabeth Reis, Cavalcante, Marianne Carvalho Bezerra, Castro Júnior, Gláucio de, Flores, Vinicius Martins, Bento, Nanci Araújo
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36040
Resumo: Esta tese inscreve-se nos estudos de Aquisição da Linguagem, e aborda a realidade de Surdos nascidos em famílias ouvintes e sem acesso a nenhuma língua de sinais. Com propósito descritivo-explicativo, este trabalho de natureza básica objetivou, principalmente, descrever como os sinais caseiros se inseriam no processo comunicativo de filhos surdos com familiares ouvintes, tendo em vista o nível de compreensão entre interlocutores, a distinção entre sinais e gestos, além do grau de iconicidade concernente às unidades gestuais. Para tanto, recorreu-se às teorias de Erving Goffman (1974), David McNeill (1992, 2000) e Christian Cuxac (1993, 2003, 2010), bem como aos estudos de Susan Goldin-Meadow e colegas (1975, 1998, 2003, 2021) e Ivani Souza-Fusellier (2004). O corpus provém de uma pesquisa de campo iniciada com um mapeamento para localizar os Surdos no Vale do Juruá, no Acre. Em seguida, houve entrevistas a partir de formulário de anamnese e aplicação de atividades eliciativas, como o Teste de Nomeação Espontânea, o ERT – Exame Fonético Fonológico (TEIXEIRA, 2006) e contação de histórias com base em sequência de imagens, segundo os trabalhos de Sallandre (2003) e Souza-Fusellier (2004). Deste estudo, participaram quatro Surdos, com idades entre nove (09;00) e vinte e quatro anos (24;00), sendo três do sexo feminino e um do sexo masculino. ACN, TBE, JCA e ESA, designados a partir de suas iniciais, são surdos severos/profundos, que vivem em locais de difícil acesso, ramais mais precisamente, e nunca tiveram contato com língua sinalizada, em especial à Língua Brasileira de Sinais (Libras). Durante o processo de coleta, as informações foram registradas em formulários (anamnese) e vídeos. Os dados filmados foram convertidos para Windows Media Video (WMV), antes de serem transcritos no ELAN (Eudico Linguistic Annotator) e transformados em imagens sequenciadas, o que permitiu a identificação e análise dos enunciados nos níveis linguísticos, a distinção de gestos e sinais, e maior compreensão da iconicidade. Os resultados sugerem que: 1) Surdos e familiares partilham de um léxico comum, embora os ouvintes, em geral, se apoiem bastante em gestos coverbais; 2) os movimentos gestuais dos Surdos são unidades lexicais que se manifestam como sinais estabilizados (nomes, processos, marcadores de tempo, avaliativos.), apontamentos, transferências e gestos de chamamento (marcadores conversacionais); 3) o sinal é essencialmente icônico, sem deixar de ser convencional e arbitrário. Enfim, é pertinente afirmar que os sinais caseiros são signos linguísticos que atuam nas Línguas de Sinais Caseiras de Surdos que, não tendo acesso, precocemente, a uma língua de sinais institucionalizada, passaram a desenvolver, pari passu, seu próprio instrumento de interação, mediante o espaço linguístico-comunicativo encontrado no seio familiar.