Conceptualização/categorização do estupro: um estudo socio-histórico-cognitivo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Araújo, Dalva Pereira Barreto de lattes
Orientador(a): Almeida, A. Ariadne Domingues lattes
Banca de defesa: Almeida, A. Ariadne Domingues, Marengo, Sandro Márcio D. Alves, Duque, Paulo Henrique, Sperandio, Natália Elvira, Santana, Neila Maria Oliveira
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36026
Resumo: A Tese, aqui resumida, teve como propósito contribuir para a compreensão de como o ESTUPRO é conceptualizado/categorizado em textos jornalísticos produzidos no Brasil entre os séculos XIX e XXI. Para tanto, o estudo teve como fonte de pesquisa o jornal O Estado de São Paulo e buscou: a) discorrer sobre a Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados, Teoria da Metáfora e Metonímia Conceptuais, Teoria dos Esquemas de Imagem, Semântica de Frames; b) investigar e analisar as expressões metafóricas e metonímicas e explicar a estruturação conceptual, por meio dos esquemas imagéticos; c) analisar, no espaço brasileiro, os fatos sócio-históricos, políticos, ideológicos e culturais imbricados nas conceptualizações encontradas desse ato de violência sexual; d) analisar se a diferença do gênero textual e do conceptualizador interfere na conceptualização/categorização do ESTUPRO; e) verificar manutenções, variações e mudanças no modo de conceptualizá-lo/categorizá-lo no devir do recorte temporal estabelecido; e f) apresentar as metáforas e metonímias conceptuais, os esquemas imagéticos e os frames relacionados à conceptualização/categorização do ESTUPRO a partir do corpus. Teve como aporte teórico os estudos da Linguística Cognitiva, em especial, as contribuições de Lakoff e Johnson (1980; 1999), Lakoff (1987, 1993, 2007), Johnson (1987), Barcelona (2012, 2009[1996]), Peña Cervel (2012), Fillmore (1982), Rosch (1978, 2011), Kövecses (1988, 1990, 2000, 2002, 2010, 2014, 2015), Kleiber (1995), Almeida (2021, 2020, 2018, 2016), Duque (2016), Eco (2013, 2007), Feltes (2007). Adotamos uma perspectiva interdisciplinar e propusemos uma discussão que, além de abarcar pressupostos da Linguística Cognitiva, seguiu o norte da Linguística Histórica, a partir da Semântica Cognitiva-Sócio-Histórica. Ademais, adotou, também, premissas oriundas dos estudos sobre os gêneros textuais e, por fim, recorreu a contribuições da Lexicografia (BLUTEAU, 1728; SILVA, 1789; PINTO, 1832; AURÉLIO, 1986; AULETE, 2020). Buscou, ainda, ampliar o caráter interdisciplinar, inicialmente, proposto entre diferentes vertentes da Linguística, de modo a traçar, também, diálogos com pesquisadores da História (SOARES, 1999; VIEIRA, 2011), da Geografia (CAVALCANTI, 2002), da Filosofia (DESCARTES,1996 [1595-1650]), da Biologia (INGOLD, 1995) e do Direito (VIANNA, 2002; WAITES, 2005). No que concerne ao desenho metodológico, o estudo desenvolvido foi pautado em uma metodologia qualitativa, baseada no paradigma da introspecção, de cunho descritivo-interpretativo, bibliográfico e documental. O corpus foi composto por textos jornalísticos, coletados no jornal O Estado de São Paulo, produzidos do século XIX ao XXI e foi constituído a partir de pressupostos da Teoria dos Fractais (MANDELBROT, 1983; ALMEIDA, 2020) e da Técnica da Saturação Teórica (SANTANA, 2019). Os resultados foram organizados, a partir dos domínios da experiência identificados, como os domínios FLORA e VIOLÊNCIA, e mostraram que a conceptualização/categorização do ESTUPRO é realizada por meio de diversos mapeamentos metafóricos e metonímicos, como a metáfora ESTUPRO É PERDA DA FLOR e a metonímia VIOLÊNCIA POR ESTUPRO, estruturadas por esquemas-I, a partir de variados domínios-fonte, integrantes de diferentes frames que estão interconectados e constituem o domínio ESTUPRO. Além disso, não foram observados no corpus sinais de mudança conceptual no decorrer do tempo, nem em relação ao gênero textual e ao conceptualizador, mas mudança de perspectivação, que produz especificações do conceito, ambos coexistindo em determinados períodos e promovendo a variação, como a metonímia VIOLÊNCIA POR ESTUPRO, que é encontrada em todo o período investigado, mas a especificação VIOLÊNCIA DE GÊNERO POR ESTUPRO só é encontrada no século XXI. Essa perspectivação diferenciada cria outras categorias de uma perspectivação já existente, estando relacionadas ao contexto social, cultural, histórico, político e ideológico no qual foram produzidas. Enfim, o estudo das metáforas e das metonímias, bem como dos esquemas de imagem e dos frames possibilitou a reflexão sobre as conceptualizações/categorizações do ESTUPRO no uso.