Tragar no corpo, verter em palavras: a escrita da solidão em Quarto de despejo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Cassiano, Bruna Louize Miranda Bezerra lattes
Orientador(a): Santos, Lívia Maria Natália de Souza
Banca de defesa: Santos, Lívia Maria Natália de Souza, Pacheco, Ana Cláudia Lemos, Felisberto, Fernanda
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Pós-Graduação em Literatura e Cultura (PPGLITCULT) 
Departamento: Instituto de Letras
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36066
Resumo: Esta dissertação detém-se sobre a escrita da solidão em Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), obra da escritora negra Carolina Maria de Jesus. Analisa a forma como Carolina expressa um Eu solitário em seu diário, avaliando os atravessamentos das experiências cotidianas que culminavam em uma solidão fundante, fenômeno capaz de estruturar as relações afetivas dentro e fora da favela do Canindé, situada na capital paulista, onde a narradora morava com os filhos durante a década de 1950. A solidão aparenta estar situada em toda parte, possuindo de uma vasta teia de significados (PACHECO, 2013) que agem como fios condutores do sentido na leitura de Quarto de despejo, atravessando a miséria, a fome, o abandono, a luta pela vida, as frustrações e os sonhos de Carolina. Seu corpo e o seu diário eram redutos de solidão. Para essa análise interpretativa, este trabalho organiza-se da seguinte maneira: em um primeiro momento, investiga a construção do solo narrativo da obra, explorando o compartilhamento das histórias entre Carolina Maria de Jesus e os demais sujeitos da favela, tendo em foco os afetos que davam substância à escrita da própria solidão, parte elementar das suas escrevivências (EVARISTO, 2008); em seguida, reflete sobre a particularidade dessa solidão, questionando determinadas compreensões acerca da palavra “solidão” firmadas em uma lógica universal que ignoram a existência de pessoas como Carolina Maria de Jesus, condicionadas à uma solidão específica, firmada, sobretudo, em seus corpos negros; por fim, propõe um mapeamento da solidão nos lugares percorridos pela narradora, analisando o modo como ela se percebia só e apontava as múltiplas violências que se convergiam em diferentes aspectos de uma solidão vivida entre a favela e o centro de São Paulo. Em Quarto de despejo, a solidão exibe-se conforme uma gradação de cores e imagens, reagindo a movimentos que oscilam e interferem na maneira como pode ser captada. Logo, não há como encerrar Carolina Maria de Jesus em uma imagem fixa de solidão, do mesmo modo que não se pode aprisionar a expressão do seu Eu solitário em uma acepção única da palavra. A análise do tema revela que a solidão de Carolina não se restringia às amarguras de se saber só. Não se tratava de uma solidão inoperante, que estanca o sujeito na próprio desamparo. Sob certas circunstâncias, a solidão retratada pela narradora era pura potência, força criadora capaz de agir na elaboração de uma obra voltada para a sobrevivência de quem padecia à margem. Para alcançar esse entendimento, mantém-se um diálogo constante com intelectuais negros e intelectuais negras. São estes: Conceição Evaristo (2008), Achille Mbembe (2014), Frantz Fanon (2008) bell hooks (1995), Grada Kilomba (2018), Patricia Hill Collins (2016), Neusa Souza (1983), Milton Santos (1979), dentre outros, cujas contribuições teóricas são fundamentais para a execução deste trabalho e se espalham ao longo de toda a discussão proposta.