Transtorno depressivo maior e sofrimento social entre mulheres transexuais e travestis na região nordeste do Brasil.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Almeida, Marcelo Machado de lattes
Orientador(a): Dourado, Maria Inês Costa
Banca de defesa: Guimaraes, Mark Drew Crosland, Dourado, Maria Inês Costa, Silva, Luís Augusto Vasconcelos da, Torrenté, Mônica de Oliveira Nunes de, Sousa, Laio Magno Santos de, Val, Alexandre Costa
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia. Instituto de Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC-ISC)
Departamento: Instituto de Saúde Coletiva - ISC
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/37945
Resumo: O transtorno depressivo maior (TDM) é um dos transtornos mentais de maior prevalência na população geral, sendo ainda mais elevada entre o segmento de mulheres transexuais e travestis (MT). Estudos apontam que se fazem necessárias intervenções no sentido de diminuir os estressores psicossociais e promover a resiliência entre pessoas trans, o que pode prevenir sintomatologias psiquiátricas. Não obstante a importância de abordar a questão dentro de uma ótica da saúde no sentido biomédico, a complexidade do problema exige uma compreensão mais apurada do problema. Dentro da antropologia médica existe o conceito de sofrimento social, que se relaciona intimamente com as noções de injustiça e de vulnerabilidade. Assim, este estudo pretendeu investigar fatores associados aos sintomas de transtorno depressivo maior (STDM) entre MT, além de buscar identificar experiências de sofrimento social de acordo com as histórias de vida narradas pela população do estudo. Para responder esses objetivos, utilizamos uma abordagem mista de métodos quantitativos e qualitativos. Para a produção dos dados quantitativos, foram recrutadas 864 MT das cidades de Salvador (n=166), Recife (n=350) e Fortaleza (n=348). As participantes foram recrutadas pelo método Respondent Driven Sampling (RDS). A variável de desfecho do estudo - STDM - foi definida a partir do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) e categorizada em nenhum (escore <5 pontos), leve/moderado (escore 5-14 pontos) e moderadamente severo/severo (escore 15-27 pontos). Inicialmente, foi feito uma análise exploratória, seguida de uma análise confirmatória, com seleção da variável violência física como exposição principal. Os dados qualitativos foram obtidos através de entrevistas narrativas com 15 das participantes do sítio de Salvador-BA. As narrativas foram organizadas de acordo com os seus pontos de conexão e de divergência, levando em conta as suas singularidades e o contexto social em que foram produzidas. Nesse processo, estabelecemos quatro eixos principais de análise – violência, sofrimento social, acesso aos serviços de saúde e estratégias de (re)existências. Na análise exploratória, STDM leve/moderado esteve associado com história de violência sexual (OR= 2,06, 95%IC: 1,15-3,68), história de violência física (OR=2,09, 95%IC: 1,20-3,67) e percepção negativa da qualidade de vida (OR=2,14, 95%IC: 1,31-3,49). Já STDM moderadamente severo/severo esteve associado a história de violência sexual (OR=3,02, 95%IC: 1,17-7,77), história de violência física (OR=.3.62, 95% IC:1.88-7,00), percepção negativa da qualidade de vida (OR=3,32, 95%IC:1,804-6,12), falta de apoio social atual (OR=2,53, 95%IC: 1,31-4,88) e falta de apoio social na infância (OR=2,17, 95%IC 1,16-4,05). Na análise confirmatória, as MT que sofreram violência física tiveram o dobro de chances de apresentar transtorno depressivo maior leve/moderado (OR=2,10, IC95% 1,21-3,65) e quase quatro vezes mais chances de apresentar transtorno depressivo maior moderadamente severo/severo (OR=3,80, IC95% 1,99-7,25). As narrativas das entrevistadas evidenciaram uma multiplicidade de realidades que são permanentemente constituídas a partir da interação entre diversos atores/actantes humanos e não humanos. O seguimento desses emaranhados – que se constituem e são constituídos a cada momento – nos permitiu a aproximação de formas de violência e de subjetivação do sofrimento que nem sempre são exploradas em investigações envolvendo MT. São necessárias políticas públicas que levem em consideração as especificidades da população de MT no âmbito da saúde mental e a característica difusa e trivializada do sofrimento social, no sentido de mitigar os seus efeitos, tanto através do enfraquecimento de contextos desfavoráveis, quanto por meio do estímulo às possibilidades de agência dessas mulheres. Dentro do contexto da atenção em saúde, evidentemente, melhorando o acesso de travestis e mulheres trans aos serviços de saúde, mas, para além disso, produzindo estratégias efetivas para o acesso à saúde dentro de uma perspectiva mais ampliada de promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida.