Jardins celestes, jardins terrenos: a conversão jesuíta e a ocupação do território na "banda sul" do Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Maitam, Fernanda Contarini
Orientador(a): Cardoso, Luiz Antonio Fernandes
Banca de defesa: Cardoso, Luiz Antonio Fernandes, Lins, Eugênio de Ávila, Hernández, Maria Herminia Olivera, Carvalho, Anna Maria Fausto Monteiro de, Marocci, Gina Veiga Pinheiro, Araújo, Renata Malcher de
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Departamento: Não Informado pela instituição
País: brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/25266
Resumo: É patente que ainda persiste uma considerável lacuna de conhecimento a ser preenchida no que concerne à conformação da rede de povoamento, ocupação e controle do território brasileiro promovida pela Igreja Católica. Tal afirmação é ainda mais verdadeira no que diz respeito à Companhia de Jesus, visto que grande parte desse processo de ocupação deveu-se à ação inaciana, que se desenvolveu ininterruptamente por mais de dois séculos (1549-1759) de vida colonial, instituindo colégios, seminários, casas, aldeamentos, fazendas e engenhos em pontos estratégicos do litoral do país. A mesma lacuna é observada em relação aos índios, para os quais se voltava a missão inaciana. Almejando resgatar parte da história de padres, índios e também dos negros na imensa estrutura inaciana da Província do Brasil, este estudo objetiva investigar a possível existência de redes de aldeamentos nos atuais estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Sobre a organização jesuíta do Espírito Santo, o Pe. Anchieta relata em 1581, que dos dez núcleos existentes, oito – quatro localizados ao norte, e quatro ao sul – estavam separados da Vila de Vitória em intervalos similares, e distantes da mesma em 72.000 passos. Desta estrutura, apenas dois aldeamentos prosperaram: Reritiba e Reis Magos. Núcleos que funcionaram como centros de aprendizado da língua tupi e pontos dos quais partiam as incursões ao sertão. Como suportes desses aldeamentos foram formadas as fazendas de Araçatiba, Muribeca e Itapoca, com especialidades bem definidas: açúcar, gado e farinha, respectivamente. No Rio de Janeiro, além do colégio e dos quatro aldeamentos que atravessaram três séculos de colonização – São Lourenço, São Barnabé, São Pedro e São Francisco Xavier −, as principais unidades econômicas eram: a Sesmaria de Iguaçu, composta pelo Engenho Velho, possuidor de currais de gado e engenho de açúcar, pelo Engenho Novo, com engenho de açúcar e aguardente, e pela Quinta de São Cristóvão, com pomar, horta e forno de cal; a Fazenda de Macacu ou Papucaia, cujo o principal cultivo era o da mandioca; a Fazenda de São Francisco Xavier, que fornecia madeira para o colégio; a Fazenda de Santa Cruz, que aliou a atividade pecuária em grande escala a uma expressiva produção agrícola; a Fazenda de Santa Ana de Macaé, que foi utilizada, principalmente, para descanso das boiadas; a Fazenda do Colégio dos Campos dos Goytacazes, que possuía muitos currais de gado, fábrica de cerâmica e um significativo engenho de açúcar; e a Fazenda de Campos Novos, que concentrou expressiva quantidade de cabeças de gado e fornecia ao colégio madeiras e alimentos. Por meio de núcleos rigidamente organizados, com especialidades bem definidas, o fluxo contínuo gerado pelo deslocamento de padres e índios e pela troca de mercadorias estabelecida entre os colégios, os aldeamentos e as unidades produtoras, possibilitou a efetivação de caminhos que cruzavam de norte a sul o litoral dos atuais estados. Assim, a presente tese se dispõe não apenas a investigar essa rede, como a esmiuçar os contextos de negociações, barganhas, disputas e alianças firmados entre jesuítas e índios no grande projeto colonial da Coroa portuguesa.