Um exemplo centenário de educação e popularização da ciência no Brasil: os Postos Anti-Ophidicos de Vital Brazil na Bahia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Ribeiro, Wander Santana Prado lattes
Orientador(a): Lira - da -Silva, Rejâne Maria lattes
Banca de defesa: Lira-da-Silva, Rejâne Maria lattes, Vergara, Moema de Rezende lattes, Dolci, Mariana de Carvalho lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências (PPGEFHC) 
Departamento: Faculdade de Educação
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/36667
Resumo: A educação em saúde sobre animais peçonhentos começou no Brasil por Vital Brazil Mineiro da Campanha, no começo do século XX, através de seu “Plano de Vulgarização das Descobertas” voltado para especialistas e não especialistas no estado de São Paulo. Seu objetivo era divulgar a sua recente descoberta, a soroterapia específica (1901), único tratamento realmente eficaz contra o ofidismo, assim como as formas de conhecer as serpentes e prevenir os acidentes. Para tal, criou uma série de atividades educativas planejadas para comunicar aspectos biológicos, médicos e culturais sobre as serpentes. Porém, sua atuação esteve limitada ao estado de São Paulo, onde criou um Sistema de Permuta de serpentes por soros antivenenos e seringas para a sua aplicação, além da publicação do livro A Defesa Contra o Ofidismo (1911), para obter o veneno necessário para a fabricação dos soros. Entendendo que o ofidismo era um problema de saúde pública e que atingia especialmente a população rural, Vital Brazil começou em 1918 a executar sua proposta de instalação de Postos Anti-Ophidicos em diversos estados brasileiros, entre eles a Bahia. Nossa hipótese é que esses Postos, assim como os institutos produtores de soro criados por Vital Brazil, o Instituto Butantan – 1899 (São Paulo) e o Instituto Vital Brazil – 1919 (Niterói), atuaram enquanto espaços museais de ensino de ciências e educação em saúde de forma pioneira no Brasil. Isso significa que apesar de não se terem se compreendido enquanto museus, esse Postos desenvolveram diversas atividades que permitem usar os conhecimentos da Museologia, em especial da Educação Museal, para compreender seu funcionamento. Essa é uma pesquisa de História das Ciências transversalizada com o Ensino de Ciências, tendo como base o levantamento e discussão de fontes históricas com o olhar da Educação Museal e da Museologia. Nosso objetivo é discutir o papel dos Postos Anti-Ophidicos da Bahia, em Salvador (1921), Senhor do Bonfim (1926) e Vitória da Conquista (1929), enquanto espaços museais singulares de ensino não formal de ciências para populações vulneráveis aos acidentes ofídicos durante a década de 1920. Foi conduzida através de revisão de literatura e pesquisa documental, produzidas entre 1860 e 1932, incluindo fontes primárias e secundárias de 17 acervos, 12 históricos presenciais e 5 acervos documentais digitais. Os Postos Anti-Ophidicos da Bahia participaram de uma estrutura complexa com a implantação de serpentários, envio de serpentes e venenos para o Instituto Butantan e Instituto Vital Brazil, colaborando na produção dos soros antivenenos de serpentes, divulgando a soroterapia específica e contribuindo para o conhecimento herpetológico produzido no Brasil. As atividades dos Postos Anti-Ophidicos envolveram instituições e personagens como eminente cientista Manuel Augusto Pirajá da Silva (1873-1961), responsável pelo Posto do Instituto Butantan em Salvador (1921-1925), na Faculdade de Medicina da Bahia; e o casal Francisco Borges (1875-) e Esmeralda Borges, responsáveis pela implantação dos Postos do Instituto Vital Brazil nas cidades de Senhor do Bonfim (1926-1932) e Vitória da Conquista (1929- 1932). Dentre as contribuições desses Postos da Bahia para a Herpetologia no Brasil, destacamos a descrição de duas novas espécies de jararacas, endêmicas da região Nordeste, a Bothrops erythromelas (Amaral, 1923) e Bothrops pirajai (Amaral, 1923), através das correspondências trocadas e animais enviados por Pirajá da Silva para Afrânio do Amaral (1894-1982), herpetólogo do Instituto Butantan. Finalmente os Postos funcionaram como verdadeiros espaços de educação, através de palestras, entrega de cartilhas, visitas aos serpentários e extrações públicas de veneno, capazes de mobilizar as populações locais para observar as serpentes em um ambiente expositivo e educativo e incentivar a sua captura e identificação, além de disponibilizar tratamento gratuito para os acidentes ofídicos, registrado a partir de 1915 no Hospital Santa Izabel em Salvador. Consideramos que os Postos Anti Ophidicos consolidaram-se como espaços de educação informal de ciências, produção de conhecimento científico e acesso ao tratamento gratuito do ofidismo nas regiões mais remotas da Bahia, inclusive para as pessoas mais vulneráveis, expondo animais vivos e os utilizando em atividades educativas de forma similar ao descrito na literatura.