Assaltantes na estrada: estudo sobre vitimização de rodoviários interurbanos por roubos na Bahia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Inoue, Silvia Regina Viodres
Orientador(a): Machado, Eduardo Paes
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva, como requisito parcial para o título de Doutor em Saúde Pública.
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/11159
Resumo: Desde a década de noventa os roubos a ônibus têm se constituído uma frequente expressão de crimes predatórios contra rodoviários interurbanos baianos. Após duas décadas, a vitimização permanece pouco discutida, nesse sentido, investigou-se os diferentes tipos, formas e scripts dos roubos, os danos decorrentes da vitimização sobre as relações de trabalho e saúde dos rodoviários, as respostas das vítimas, das empresas e do sistema de segurança pública. De caráter qualitativo, o estudo fundamentou-se em entrevistas com 60 rodoviários, questionários, observação participante e pesquisa documental. Discute-se a confluência das condições de possibilidades para o crime: a malha rodoviária extensa, precária e insuficientemente policiada; a convergência no tempo e espaço adequado de alvos tangíveis, ofensores competentes e a ausência de vigilantes capazes. Constatou-se que diferentes modos de viagens, ou seja, as características dos alvos (acessibilidade e valor) atraem ofensores de maior ou menor instrumentalização. Enquanto os ônibus comerciais são assaltados por ofensores que roubam o ônibus após se passarem por passageiros, os veículos executivos são alvos de grupos fortemente instrumentalizados que retiram o veículo das rodovias para saqueá-los. No roubo aos ônibus executivos nota-se uma complexa organização social, com ações e papéis regulares e hierárquicos e interação tripartida: o primeiro contato dos ofensores é estabelecido com o rodoviário (alvo/vítima instrumental), a partir da invasão do veículo os passageiros (alvos principais) são inseridos no frame do roubo. O caráter crônico desses eventos divide os rodoviários entre aqueles que têm no risco de vitimização a principal motivação para o abandono da carreira e os que naturalizam a possibilidade de tornarem-se vítimas. Vitimizados ou não, parte dos entrevistados convivem diariamente com o sentimento de medo e o adoecimento lendo e gradual e raramente recebem amparo dos empregadores. Na prevenção e dissuasão contra aos roubos observou-se a atuação de defesas pessoais e defesas institucionais. Como resultado desta junção constatam-se graduais alterações na perpetração desses crimes, que em lugar de serem extintos, migram ou retornam para as mesmas regiões, tão logo as defesas deixem de ser empregadas ou possam ser superadas. De modo que,identificam-se hotspots e dangerous hours, alvos preferenciais e modus operandis distintos na distribuição dos roubos. A vitimização por roubos a ônibus em rodovias é uma violência extrema à medida que: apesar dos scripts e hotspots conhecidos, ainda não há defesas ou engajamentos capazes de coibi-los; há indícios de laços de cumplicidades de membros de instituições policiais e grupos criminosos na manutenção desses crimes; ainda que seja uma vitimização coletiva e crônica, com graves impactos sobre as vítimas e sem limites de níveis de violência expressiva empregada, as vítimas não são reconhecidas como tais, sendo tratadas com negligência e omissão, o que em parte é explicado pela naturalização desses eventos.