Nem sempre o Danúbio é azul: Qual destino para o infantil no tempo das funções parentais terceirizadas?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Mendonça, Leila Guimarães Lobo de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Psicologia
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Psicanálise
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/21635
Resumo: Esta tese parte da compreensão de que as transformações ocorridas na esfera sociopolítico-econômica do mundo ocidental a partir da segunda metade do século passado abalaram a organização até então existente, afetando a constituição do corpo subjetivo e, por conseguinte, acarretando outra ordem de sofrimento psíquico cujo cerne é uma experiência de dor sem apelo ao outro. O objetivo geral desta pesquisa é articular determinadas modalidades de vivência subjetiva que atualmente se apresentam no universo infantil com a experiência primordial quando marcada pelo mau acolhimento da criança pelo outro. Considera-se que as transformações que ocorreram provocaram um esgarçamento das funções parentais, que possibilitam o processo de subjetivação, devido ao processo de terceirização a que foram submetidas e às intervenções medicamentosas que parecem perpetuar a condição da criança como mal acolhida nos primórdios da vida. Assim, esta pesquisa apresenta como hipótese a ideia de que na atualidade parece prevalecer a “criança mal acolhida” que o psicanalista húngaro Sándor Ferenczi apresentou em sua obra. Pensa-se que a criança, em sua concepção universal, em virtude dos descompassos no acolhimento a que está sujeita hoje, se encontra mais exposta não somente aos transbordamentos pulsionais, mas às excitações que advêm dos estímulos externos. Isto significa que, não preenchendo as condições de mediador, o outro/cuidador priva a criança de um filtro que a proteja dos impactos do mundo externo e do mundo interno. Com esta hipótese, pensa-se que a criança elevada à condição de majestade foi filha da modernidade em função de um contexto histórico que promoveu uma supervalorização e um hiperinvestimento tanto do espaço familiar quanto do social sobre a criança, indicando que ela foi acolhida. O mundo contemporâneo, por sua vez, parece ter gerado a criança mal acolhida, visto o esvaziamento das funções primordiais que foram terceirizadas. Embora o mau acolhimento no início da vida e seus efeitos sobre a constituição da subjetividade também sejam abordados pelo referencial freudiano e lacaniano, a formulação de Ferenczi ocupa um lugar fundamental nesta pesquisa.