Construção social do burnout no Brasil: medicalização da fadiga no trabalho e seus efeitos.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Vieira, Isabela Maria Magali Mello
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/4782
Resumo: Fadiga e estresse são, cada vez mais, uma marca da vida urbana e, sobretudo, de nossa relação com o trabalho. Nos anos 1970, um tipo particular de fadiga relacionada ao trabalho recebeu o nome de burnout ( combustão completa ). Originalmente objeto da psicologia, o burnout é considerado uma reação ao estresse crônico, tendo ganhado status de transtorno psiquiátrico em alguns países (sendo a Suécia o caso mais emblemático). Já a legislação brasileira o define como doença relacionada ao trabalho desde 1999. Porém, seu reconhecimento como tal é escasso, estando sujeito a um jogo de forças que envolve pesquisadores, profissionais de saúde, sindicatos e empresas. Esta pesquisa analisa a trajetória da categoria burnout no Brasil, investigando a ocorrência e possíveis efeitos do processo de medicalização/psicologização da fadiga no trabalho, através dos discursos técnico-científicos da medicina e da psicologia brasileiras sobre o burnout. Por meio de pesquisa bibliográfica, analisa-se esta produção científica quanto a características gerais, principais obras e autores, contexto de desenvolvimento e temas recorrentes. Contrariamente à tendência internacional de expansão conceitual, verifica-se que a pesquisa brasileira percebe o burnout da forma tradicional, como um problema quase exclusivo de profissionais de saúde e professores, traduzindo uma preocupação de ordem sociocultural ligada ao problema da regulação emocional central nas chamadas profissões de cuidado. Apesar do uso predominante do Maslach Burnout Inventory (MBI), chama a atenção a variabilidade da interpretação de seus resultados, geralmente indicando o burnout em termos de risco . Identifica-se uma tendência à pesquisa com estudantes (estudo considerado como atividade pré-profissional ). O interesse pelo burnout é compreendido também dentro do contexto cultural mais amplo de (re)valorização das emoções, ligado ao individualismo. Discute-se a ideia de que o burnout se estabelece como conceito não só devido à sua associação à noção de estresse (categoria cuja força é muito mais simbólica do que propriamente científica ), mas também devido a uma equiparação do hospital e da escola à organização (empresa), refletindo uma certa ideia de trabalho (o trabalho na empresa) e de trabalhador (o empreendedor ou executivo). Assim, é possível observar uma oposição implícita entre um modelo velho de organização do trabalho, associado à hierarquia e à burocracia (representado pela instituição hospitalar e escolar), e um modelo novo , de equipes multidisciplinares atuando em rede (representado pela Estratégia Saúde da Família, por exemplo). Nota-se ainda uma ambivalência quanto às transformações do trabalho, ora vistas como desejáveis e inevitáveis, porque resultado do progresso, ora como nocivas, porque produtoras de sofrimento e de perda de autonomia. Dessa forma, ao reunir uma série de valores culturais sobre a Pessoa e o trabalho, o burnout se constrói como crítica, mas também como uma espécie de antimodelo do trabalho e do trabalhador.