Ainda se busca uma língua para o sujeito surdo? O abade L’Épée como horizonte de projeção e de prospecção na história da educação de surdos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Barbosa, Priscila Costa Lemos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação e Humanidades::Instituto de Letras
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Letras
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/22862
Resumo: O presente trabalho, por meio de uma pesquisa de cunho teórico, foi norteado pela seguinte pergunta: que língua se quis construir para o sujeito surdo a partir do método do abade L’Épée, na combinação de duas línguas – de sinais e francesa oral no contexto da França do século XVIII? Para tentar responder a essa pergunta, a discussão toma como referencial teórico a Análise de Discurso materialista (PÊCHEUX 1990, 1995, 1997, 2004, 2006; ORLANDI, 1990, 1993, 1994, 1997, 2001, 2011, 2012, 2013, 2015; HAROCHE, 1992, 1998; COURTINE 1982; FOUCAULT 1975, 2000, 2006, 2010, 2016) em confluência com a História das Ideias Linguísticas (AUROUX 1992; GUIMARÃES 1994, 1996, 1997, 2002; ORLANDI 2002, 2013; FÁVERO 1996; ZOPPI-FONTANA 2009), entre outros, para investigar o deslocamento de posições-sujeito que comparecem na figura do abade francês Charles-Michel de L’Épée em sua trajetória para educar surdos na França do século XVIII, tomando como corpus principal de análise as quatro cartas escritas por L’Épée entre os anos de 1771 e 1774. Para depreendermos os efeitos de sentido na história da educação de surdos no mundo, em relação ao processo de construção e de humanização desse sujeito e de sua língua, trouxemos as concepções de Michel Pêcheux (1969) a respeito das seguintes noções: sujeito, formações discursivas, imaginárias e ideológicas. A noção de posição-sujeito (PÊCHEUX, 1969/1997) também nos foi cara para compreendermos o jogo de posições-sujeito que compareceram sobre o sujeito L’Épée, na medida em que a criação de uma metodologia de ensino para os surdos permitiu não só que L’Épée ficasse configurado como figura de “saber” sobre o surdo e a surdez, mas também como o espaço de referência, tornando-o um objeto de saber sobre o surdo porque a partir dele se instaura uma discursividade sobre esse sujeito. A partir de alguns posicionamentos discursivos, percebemos que a trajetória de Charles-Michel de L’Épée vai configurá-lo como o “Pai dos surdos” na historicidade do sujeito surdo. Na construção das análises, a noção de formações imaginárias desenvolvida por Pêcheux (1975) foi de fundamental importância para compreender como as posições discursivas nas quais os sujeitos se posicionam interferem na imagem do abade L’Épée, do surdo e na imagem de língua. Para os conceitos teóricos sobre língua e política linguística, utilizou-se de Fávero (1996), Zoppi-Fontana (2009); Dezerto (2013); Guimarães (2002) e Orlandi (2012). Para falar sobre o surdo, referiu-se a Barbosa (2020); Silva (2012); Câmara (2018); Carvalho (2013); Behares (2014); Bernard (1999). Para a parte da história biográfica de L’Épée trouxemos Ruchot (2013); Boucheut (2008); Stokoe (1960) e sobre a historiografia da França do século XVIII trouxemos Chartier (2009); Gonçalves (2009), Todorov (2008),Vial (2001); Vovelle (2012), dentre outros. A partir do amálgama da língua de sinais à estrutura da língua francesa oral do método combinatório de línguas que L’Épée compôs – os Sinais Metódicos -, a língua de sinais vai sendo descrita, e, de igual maneira, o sujeito surdo vai sendo instituído às margens do processo de nacionalização da França. Portanto, essa tese apresenta o abade Charles-Michel de L’Épée como um horizonte de projeção e de retrospecção (Auroux, 1992) na história da educação de surdos porque a partir de sua figura o surdo é instituído, com uma língua, uma escola, uma metodologia de ensino e com professores para sua educação