De fábrica de marginal a mães guerreiras: uma etnografia sobre a luta de mães de vítimas da violência do Estado

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Ota, Maria Eduarda
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais::Instituto de Estudos Sociais e Políticos
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/15453
Resumo: O presente trabalho é resultado de uma etnografia multissituada sobre a atuação política de mães de vítimas da violência do Estado do Rio de Janeiro no período de 2014 a 2018. Nesses quatro anos de pesquisa acompanhei eventos públicos e privados, institucionais e nãoinstitucionais, abertos e reservados, nos quais precisava constantemente negociar minha presença e reposicionar-me de acordo com cada situação: às vezes como pesquisadora, outras vezes como apoiadora da causa. Analisei assim atos de protesto, audiências públicas, palestras, seminários, homenagens, missas religiosas, grupos focais, cursos de capacitação, entrevistas individuais e conversas informais, além de materiais secundários como livros e documentários com a participação das mães. Destarte, a tese está dividida em três grandes partes, além da introdução e conclusão. Na primeira parte abordo a relação de mães de vítimas da violência institucional com o Estado a partir da teoria do Estado nas margens de Das e Poole e da ascensão do Estado penal de Wacquant, mostrando de que forma o Estado se apresenta para essas mulheres em seu cotidiano, sobretudo através da polícia, do sistema socioeducativo e do sistema judiciário, o que Wacquant chamaria de mão direita do Estado ou braço repressivo do Estado, onde violações aos Direitos Humanos são frequentes por se tratarem de margens desse Estado em que a linha entre o legal e ilegal é tênue e facilmente ultrapassada. Na segunda parte busco trabalhar a organização política dessas mães a partir da discussão com teorias de movimentos sociais, destacando sua organização em rede, a relação com ONGs, a construção da identidade coletiva, a profissionalização do ativismo, as pautas simbólicas e materiais incluindo tanto reivindicações de reconhecimento quanto de redistribuição, e a internacionalização da luta e da denúncia do racismo. Por fim, na última parte busco pensar o conceito de etos guerreiro como discutido por Zaluar nas favelas do Rio de Janeiro para propor a noção de etos da guerreira construído por mães de vítimas da violência institucional que se identificam como mães guerreiras , trazendo a discussão sobre a maternidade negra a partir de Collins, Davis e Rocha. Nesse sentido, a tese retrata a transformação da identidade dessas mulheres de fábricas de marginal a mães guerreiras, da heteroidentificação estigmatizante à autoidentificação positiva constitutiva de um etos específico, a partir da apropriação de sua história e da autoafirmação enquanto atrizes políticas fundamentais na defesa de Direitos Humanos e na luta contra a violência institucional e o racismo estrutural nos dias atuais