"Ganha mais quem nada faz; menos ganha quem produz": o samba carioca e a crítica à ideologia do fim da centralidade do trabalho

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Coelho, Bruna da Penha de Mendonça
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Sociais::Faculdade de Direito
BR
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Direito
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/9445
Resumo: A pesquisa tem por escopo perquirir, na interconexão entre o samba carioca e a sociologia crítica do trabalho, em que medida esse gênero musical se apõe como linha de resistência ao processo histórico de usurpação do trabalho alheio, mais especificamente no que concerne a seu potencial de crítica ao discurso ideológico e hegemônico de crise (ou, em certas versões, até mesmo fim) da sociedade do trabalho. Tal problema de pesquisa perpassa também, em um sentido mais amplo, a investigação sobre como a cultura, materialmente inserida nas relações sociais, constrói discursos contra-hegemônicos tendentes a contestar as desigualdades sociais vigentes. Parte-se da hipótese de que o samba carioca (com especial foco para o período atinente à virada neoliberal para o último quarto do século XX, bem como seus reflexos na produção contemporânea) possui a potencialidade de questionamento do discurso ideológico de superação do trabalho vivo na sociedade hodierna. E o fez e faz segundo um duplo enfoque: tanto questionando as abstrações e promessas burguesas, quanto se reportando, mais detidamente, à questão do trabalho e ao mito da negação do conflito capital-trabalho (seja pela exaltação do trabalho verdadeiramente livre, seja pela ode à malandragem, seja pela denúncia explícita da exploração). O primeiro capítulo propicia um resgate histórico de episódios ligados à formação e ao desenvolvimento do samba carioca, com especial atenção para sua trajetória de resistência às constantes tentativas do poder dominante de perseguição, disciplinamento, ampliação das desigualdades, apagamento da memória coletiva e mercantilização da cultura. O segundo capítulo é dedicado à análise do discurso ideológico da superação do trabalho vivo, passando pelo seu surgimento no bojo do giro antiprodutivista do pensamento social europeu, pela sua recepção nestas terras e pela sua relação com o neoliberalismo. Por sua vez, o último capítulo propõe o entrelaçamento entre os anteriores, detendo-se de forma mais direta na investigação do problema de pesquisa aventado. Para tanto, o capítulo se vale da contribuição da produção artística de Bezerra da Silva e Candeia, do espírito do Samba do Trabalhador e da potência contestatória dos quatro dias de glória do carnaval (incluindo a marchinha, o samba de enredo e o histórico desfile de 2018 do G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti). Por fim, a conclusão é dedicada à retomada da hipótese de pesquisa e ao compartilhamento das impressões obtidas ao longo da investigação, apontando caminhos para a relação entre a produção de discursos contra-hegemônicos pelo samba, o regime de acumulação neoliberal e o processo revolucionário de superação material da barbárie de um modo de produção fundado na exploração do homem pelo homem.