Muito além do trauma: uma investigação sobre o papel das reações peritraumáticas sobre o transtorno de estresse pós-traumático

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Pereira, Letícia Rocha
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso embargado
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico::Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro
Brasil
UERJ
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/20938
Resumo: O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é uma condição debilitante que impacta significativamente a qualidade de vida dos seus portadores. Dentre vários fatores de risco para o TEPT, as reações peritraumáticas (RP), como a imobilidade tônica peritraumática (ITP), dissociação (DP) e reações físicas de pânico (RFP), estão entre as mais investigadas. No entanto, a maioria dos estudos avaliou essas RP separadamente, e o elo entre elas e o TEPT ainda não foi bem compreendido. Portanto, essa tese teve como objetivos: (i) estimar simultaneamente o efeito das três RP sobre o TEPT utilizando um instrumento validado; e (ii) avaliar se há efeito indireto da ITP sobre o TEPT mediado pelo sentimento de culpa/vergonha. Utilizamos modelagem de equações estruturais para analisar dados de 3211 participantes do Rio de Janeiro e de São Paulo. Tratamos as RP como variáveis latentes, selecionando desconfundidores específicos para cada reação. Nossas exposições foram as RP, sendo TEPT o desfecho. Calculamos odds ratios e intervalos de confiança de 95%. Utilizamos o Bayesian Information Criterion para comparar o ajuste de modelos não aninhados. Quando analisadas separadamente, todas as RP alcançaram significância estatística. No entanto, apenas DP (ORDP=1,8; IC95%:1,3-2,4) e RFP (ORRFP=2,5; IC95%:1,8-3,4) permaneceram estatisticamente significativas quando incluímos as três reações em um modelo com seus respectivos desconfundidores e correlações entre elas. Os resultados sugeriram um possível efeito da ITP sobre o TEPT (ORITP=1,4; IC95%:1,0-1,9). As interações entre as RP não foram estatisticamente significativas. Ao investigarmos o sentimento de culpa/vergonha como mediador entre ITP e TEPT, o efeito indireto alcançou apenas significância estatística limítrofe (ORITP(TNIE)=1,1; IC95%:1,0-1,2). Os efeitos direto (ORITP(PNDE)=1,3; IC95%: 0,8-1,8) e total (ORITP(TE)=1,4; IC95%:0,9-1,9) para ITP perderam significância quando todas as RP, seus desconfundidores e correlações entre elas fizeram parte do mesmo modelo. As demais RP, no entanto, permaneceram estatisticamente significativas (ORDP=1,7; IC95%:1,3-2,3 e ORRFP=2,5; IC95%:1,8-3,4). Nossos resultados mostraram que a DP e as RFP aumentaram o risco de TEPT mesmo quando consideradas em conjunto. A ITP pode ter efeito sobre o risco de TEPT, mas esse achado deve ser interpretado com cautela devido a significância limítrofe dessa RP em nosso modelo final. Também não identificamos uma mediação significativa entre ITP e TEPT pelos sentimentos de culpa/vergonha. Contudo, a significância limítrofe encontrada para o efeito indireto demanda investigações adicionais. Nossos achados reforçam a ideia de que as reações peritraumáticas devem ser analisadas e compreendidas como ocorrências simultâneas. Também seria oportuno que estudos envolvendo culpa/vergonha, ITP e TEPT focalizassem traumas caracterizados por aprisionamento e impossibilidade de escapar, dado que estas experiências são apontadas como mais susceptíveis para desencadear a ITP.