Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2025 |
Autor(a) principal: |
Cunha, Fernanda Ielpo da |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
|
Tipo de acesso: |
Acesso embargado |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Universidade Estadual do Ceará
|
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
|
Departamento: |
Não Informado pela instituição
|
País: |
Não Informado pela instituição
|
Link de acesso: |
https://siduece.uece.br/siduece/trabalhoAcademicoPublico.jsf?id=117307
|
Resumo: |
O presente estudo se debruça sobre a Nova História Cultural que envolve o século XX, especialmente no Brasil, com foco na história e na educação de mulheres educadoras. Aponta como campo de análise a biografia da professora Maria do Socorro Eugenio da Silva, com destaque para a sua trajetória de vida, formação profissional e atuação. Nascida em 1939, no quilombo Sítio Veiga, em Quixadá, Ceará, filha de Maria Luzia de Sousa e Raimundo Eugenio da Silva, a professora Maria do Socorro, popularmente conhecida entre os seus como madrinha Socorro, é uma mulher de origem negra e quilombola, a primeira mulher a ser alfabetizada no seu território e a alfabetizar entre seus pares. Ademais, a biografada se destaca entre os/as seus irmãos/ãs como aquela que, desde a mais tenra idade, já demonstrava o seu interesse pelos estudos, sendo alfabetizada ainda criança pela professora Raimunda Picuité. Posteriormente, aos 10 anos, seguiu aprimorando seus estudos com as irmãs missionárias da congregação da Imaculada Conceição, do mosteiro da Santa Cruz, em Dom Maurício, Quixadá, Ceará, onde mais tarde, aos 16 anos, passou a ensinar a convite das irmãs na escola São José, ligada à mesma congregação. Exerceu ainda importante papel como membro atuante da comunidade Sítio Veiga, fazendo parte da Associação Comunitária nos processos de decisão, além de sua dedicação nas obras sociais e religiosas. Participou de forma atuante do ritual da dança de São Gonçalo, sendo uma das dançadeiras e repassando estes conhecimentos às meninas e mulheres da comunidade. Contribuiu ainda significativamente ao longo de sua vida no plantio e colheita das sementes crioulas, sendo uma das guardiãs desse patrimônio cultural herdado pelos seus ancestrais e perpetuado entre as inúmeras gerações quilombolas. Desse modo, o recorte temporal que versa sobre este estudo percorre o período de 1955 a 2001, relevante do ponto de vista de formação e atuação da professora Maria do Socorro e das práticas de alfabetização exercidas por ela não só no quilombo Sítio Veiga, como nas escolas da zona rural onde ela também atuou (escola José Pereira de Sousa, educandário São José e escola da sede do distrito de Dom Maurício, que atualmente é conhecida como escola de ensino fundamental Antônio Martins de Almeida). Em face dessa história que marca a trajetória de vida pessoal e educacional da professora Maria do Socorro, tem-se como objetivo geral compreender o processo de formação e atuação profissional da professora Maria do Socorro Eugenio da Silva na comunidade Sítio Veiga, em Quixadá, Ceará, levando em consideração o seu lugar de vivência, a cultura e a singularidade de uma mulher negra quilombola (1955-2001). Trata-se, portanto, de uma pesquisa de natureza qualitativa, entrelaçada pela subjetividade inerente às comunidades tradicionais quilombolas, as quais tem singularidades simbólicas perpetuadas pelos conhecimentos dos seus ancestrais através da oralidade estando esses elementos presentes com fontes orais contidas nas narrativas dos/as entrevistados/as e na constituição da vida da biografada. O caminho como se articula a presente pesquisa segue ao encontro da metodologia da História Oral, inscrevendo-se no gênero de narrativas biográficas, por considerar este como o lugar onde se inserem os recursos e as abordagens para as análises dos relatos biográficos, a escrita, a leitura, a trajetória de vida percorrida pela professora Maria do Socorro no tocante à sua formação e aos lugares onde atuou como docente, a relação dentro do seu território e fora e os saberes que foram adquiridos ao longo de sua vida pelos saberes ancestrais. Os resultados demonstram que a professora Maria do Socorro era uma mulher interiorana, de origem pobre, filha de agricultores rurais, que se alfabetizou ainda na infância e foi chamada para ensinar as crianças do território do quilombo Sítio Veiga e áreas adjacentes, em torno dos 16 anos, o que torna o lugar ocupado por ela revelador de rupturas, capaz de quebrar os lugares historicamente dado às mulheres negras e quilombolas, o qual, ao mesmo tempo, possibilitou que ela fosse a pioneira de sua geração a ser alfabetizada, a ter uma profissão que não se vinculasse unicamente à esfera doméstica e do trabalho rural. Afinal, saber ler, escrever, ensinar, dominar cálculos e sair da esfera doméstica foi um espaço devidamente necessário à professora Maria do Socorro, proporcionando-lhe autonomia e independência financeira. Diante do exposto, é potente situar a biografia da professora Maria do Socorro para a ciência e a pesquisa com um lugar merecido, que rompe também as histórias dos grandes feitos heroicos, dado que se trata de um mulher negra e quilombola, advinda das camadas populares, que tem uma história e, como tal, é construtora de mudanças estruturais, sociais e históricas, que deixou o seu legado como mulher e educadora não só para o seu quilombo e os demais lugares que ocupou como professora, mas também deixa sua história como marca e registro para a história da educação cearense, do Brasil. |