Caboclos e caboclas no oeste catarinense: uma trajetória marcada pela colonialidade do poder
Ano de defesa: | 2022 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Catolica de Pelotas
Centro de Ciencias Sociais e Tecnologicas Brasil UCPel Programa de Pos-Graduacao em Politica Social |
Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://tede.ucpel.edu.br:8080/jspui/handle/jspui/987 |
Resumo: | Este estudo focaliza uma discussão em torno das vivências, práticas sociais e estratégias de resistência do grupo social de caboclos na relação com as dinâmicas de cooperação da Agricultura Familiar e Camponesa e os processos de desenvolvimento na abrangência da região Oeste catarinense, território brasileiro. No processo de desenvolvimento dessa região, os caboclos vivenciaram expropriação, proletarização, exploração de sua força de trabalho e exclusão social em pouco mais de 200 anos, juntamente com indígenas e, posteriormente, com segmentos do campesinato eurodescendente. Atualmente, nesse contexto regional, conflitam-se, de um lado, a Agricultura Familiar e Camponesa e sua complexa rede organizativa e, de outro lado, o concentrado e homogêneo agro e hidronegócio. Compreender as contradições e os conflitos de um grupo social como os caboclos, historicamente inferiorizados na classificação social, demanda novos aportes teóricos na produção de um conhecimento científico capaz de analisar os desafios socioeconômicos e culturais que os afeta, suas práticas sociais e estratégias de resistência, sua organização e dinâmicas de cooperação, o modelo de desenvolvimento rural hegemonizado pelo capital global financeirizado. Diante desse contexto, a grande pergunta que se faz é: em que medida as dinâmicas de cooperação vivenciadas historicamente pelo grupo social de caboclos da região Oeste catarinense podem ser fortalecidas por movimentos e processos de decolonização na relação com a Agricultura Familiar e Camponesa, em contraponto à lógica hegemônica de desenvolvimento? Para respondê-la, foram analisadas as dinâmicas de cooperação vivenciadas e as perspectivas de futuro no fortalecimento dos movimentos e processos decoloniais desse grupo social. O processo de pesquisa, pautado pela abordagem decolonial, envolve o próprio pesquisador no esforço de “decolonizar o seu olhar” na produção de um conhecimento científico fundamentado pela pluriversalidade, tornando possível o reconhecimento de que outras perspectivas também são válidas. Nessa lógica, este estudo se caracteriza como qualitativo, utiliza estratégias e técnicas de coleta de informações durante a pesquisa de campo realizada, da observação participante, da travessia percorrida, das entrevistas individual e grupal. A discussão e os resultados alcançados neste estudo indicam um alinhamento do grupo social dos caboclos do meio rural com a luta mais geral do campesinato por um modelo alternativo de desenvolvimento, ou mesmo de pós-desenvolvimento, na perspectiva do bem viver. No entanto, nas vivências da cooperação e organização social, verifica-se uma resistência às organizações tradicionais e formalizadas, presumindo-se a existência de cooperação em práticas e ações coletivas/comunitárias e organizativas não tradicionais, não perceptíveis/visíveis e estudadas. A participação nas formas organizativas tradicionais e formais do campesinato eurodescendente tem demonstrado pouca adesão e sentimento de pertença dos caboclos e caboclas em relação aos sistemas produtivos mais capitalizados, pois em sua maioria se apresentam diversificados e voltados prioritariamente para subsistência, não encontrando elementos de convergência ou abrigo junto às organizações cada vez mais especializadas e focadas no mercado de média e grande escala da Agricultura Familiar da região Oeste catarinense. Por fim, depreende-se importância de um movimento e processo de descolonização não só no campo da Agricultura Familiar, mas também na sociedade regional, como fundamental na compreensão da racialização e sua exclusão no processo de construção do desenvolvimento regional, e como estratégia de construção de relações interculturais e convivência de pluriversos. Especialmente para os caboclos e caboclas, torna-se uma questão desafiadora, especialmente pelo complexo processo de miscigenação, por conseguinte, para seu modo de vida e sua forma de pensar a relação com a terra, o trabalho, a natureza, o lazer, a espiritualidade, a vida em comunidade, etc. |