Saúde mental e masculinidades : experiências de sofrimento psíquico e autocuidado narradas por homens

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Rocha, Rafaela lattes
Orientador(a): Zucchi, Eliana Miura lattes
Banca de defesa: Oliveira, Cely de, Couto, Márcia Thereza, Maksud, Ivia Maria Jardim, Lorandi, Paulo Angelo
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Católica de Santos
Programa de Pós-Graduação: Doutorado em Saúde Coletiva
Departamento: Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Saúde
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://tede.unisantos.br/handle/tede/7987
Resumo: Introdução: A construção social do gênero modifica as formas de expressão do sofrimento e de autocuidado de homens. Culturalmente, o homem não deve demonstrar sentimentos, justificando a busca pelos serviços de saúde em situações de insuportabilidade do sofrimento. A postergação do cuidado em saúde mental pode comprometer as funções psíquicas e sociais dos indivíduos. As políticas de saúde, a estrutura dos equipamentos, bem como o saber dos profissionais de saúde também são modulados pela baixa procura e estereótipo de gênero. Assim sendo, o acolhimento nos serviços de saúde não abrange a complexidade e variabilidade da expressão masculina, deixando o homem pouco à vontade, não atendendo às suas demandas e reforçando sua ausência. Objetivo: Compreender as construções das masculinidades como parte das experiências de sofrimento mental e autocuidado nas perspectivas de homens. Procedimentos metodológicos: Trata-se de uma pesquisa qualitativa com entrevistas guiadas por um roteiro temático com questões sobre sofrimento mental e estratégias de autocuidado com 13 homens vinculados ao serviço de saúde mental do município de Santos - SP. As análises foram realizadas a partir da imersão no material empírico seguidas de codificação e categorização. Os resultados foram interpretados a partir da análise das narrativas em duas principais categorias: (1) Experiências de sofrimento mental: gênese e formas de expressão (2) Estratégias de autocuidado. Resultados: As experiências de sofrimento mental foram mediadas por histórias de fracasso na vida social, no trabalho e nos relacionamentos, com sua gênese atribuída ao abandono da figura feminina. A expressão do sofrimento se deu por sintomas depressivos tradicionais, violência, uso de substâncias e tentativas de suicídio. O trabalho se mostrou um organizador central da vida dos homens. Entre as estratégias de autocuidado as experiências mais expressivas foram acerca do acesso e permanência no serviço de saúde mental, vinculadas às práticas que combinam distração, prazer e privacidade, destacando-se a religião. Discussão: As diversas construções das masculinidades demonstraram diferentes experiências e formas de expressão do sofrimento psíquico, com destaque para as atividades que envolvem o entorpecimento da consciência, como o uso de substâncias psicoativas. Outras atividades que envolveram distração e prazer, porém de forma individual, são consideradas estratégias de autocuidado por promover autoconhecimento e autonomia. A religião e os afetos familiares revigoram os laços comunitários perdidos e revelam-se uma forma de lidar e ressignificar o sofrimento a partir do perdão. A retomada ao trabalho, independência financeira ou efetivação de um sonho de atividade laboral se mostrou uma importante estratégia de autocuidado, pois diminuía o sentimento de fracasso social. A perda de identidade, associada à idealização do modelo de masculinidade, resultou em tentativas e pensamentos suicidas. A gênese do sofrimento associada à figura feminina está relacionada à construção social baseada na misoginia, machismo e neoliberalismo. Outras formas de abandonos, que escapam às narrativas conscientes, informam uma condição de sofrimento e vulnerabilidade, entre elas o abandono da figura paterna e do Estado. Conclusão: As experiências de sofrimento e autocuidado são mediadas pelas construções sociais do gênero e modo de produção neoliberal, impondo aos serviços de saúde oferecer espaços de reflexão que compreendam as complexidades e singularidades da expressão masculina.