Dinâmica do desmatamento em uma nova fronteira do sul do Amazonas: uma análise da pecuária de corte no município do Apuí

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2005
Autor(a) principal: Razera, Allan
Orientador(a): Fearnside, Philip Martin
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Programa de Pós-Graduação: Ciências de Florestas Tropicais - CFT
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/5091
Resumo: A manutenção das áreas de floresta da Amazônia esbarra nas poucas opções economicamente viáveis para a utilização das terras sem o corte raso, e na falta de recursos para a fiscalização e monitoramento. Isso tem proporcionado taxas anuais de desmatamento que assumem níveis assustadores e crescentes, principalmente nos últimos anos. As pesquisas relacionadas ao desmatamento da Amazônia têm indicado que a mais importante causa da retirada da floresta é a expansão de pastagens, particularmente dirigidas pelas grandes propriedades. Trabalhos recentes apontam para a viabilidade econômica da pecuária como motor de expansão sobre as florestas. Entretanto, as diferentes opiniões e resultados de pesquisas relacionadas à produtividade da atividade de pecuária na Amazônia brasileira não permitem que se tenha uma definição concreta e consensuada a respeito da viabilidade econômica da atividade, principalmente quando analisamos a diversidade de situações e condições existentes na Amazônia. Em vista disso, esse trabalho buscou analisar a economia da pecuária de corte em uma nova fronteira de desmatamento, o município do Apuí, no sul do Amazonas. A análise foi realizada por meio da aplicação de questionários e observações de campo. Foram realizadas 31 entrevistas com produtores divididos em grandes (>1000 ha), médios (101 a 1000 ha) e pequenos (≤100 ha). A partir das informações das entrevistas foram elaboradas planilhas em Excel de evolução de rebanho e análise econômica (VPL e TIR). Foram propostos cenários com venda, venda parcial e sem venda de madeira na propriedade, associados à inclusão ou não dos preços de terra na compra e venda da propriedade. Os cenários com inclusão de preços de terra foram separados em taxas anuais de crescimento do preço da terra de 10%, 20% e 30%, procurando refletir uma situação econômica não muito destoante da que o Brasil passa atualmente, ou seja, de crescimento moderado a bom. Foi construído também um “cenário atual” onde procura-se, a partir dos dados de evolução anual do preço das terra de mata e pastagem, de 2002 a 2005, obter as taxas reais de evolução do preço da terra. De acordo com resultados obtidos a rentabilidade da atividade de pecuária no município do Apuí é baixa. Nos cenários 1, 2 e 3, onde não são incorporados os preços de compra e venda da terra, as taxas internas de retorno foram baixas e até negativas. Nestes cenários, quando considerada a venda da madeira (cenário 1), as taxas internas de retorno foram de 1,52%, 0,63% e -0,6%, para pequenos médios e grandes, respectivamente. Quando contabilizada a venda parcial da madeira (cenário 2), a taxas foram de 0,38%, -1,22% e -2,44%, e quando foi considerado o cálculo sem a venda da madeira (cenário 3), as taxas foram de -0,76%, -2,98% e -4,19%, para pequenos, médios e grandes respectivamente, ou seja, extremamente baixas, acusando a inviabilidade econômica da atividade como alternativa de investimento. Com a inclusão do preço da terra e taxa de aumento anual em seu preço de 10%, e com a venda de madeira inserida no cálculo (cenário 4), as taxas internas de retorno encontradas para pequenas, médias e grandes propriedades foram de 4,37%, 3,89% e 2,55%, respectivamente. Quando considerou-se a venda parcial de madeira (cenário 5) essas taxas foram de 3,45%, 2,34% e 1,19%, e no caso sem a venda de madeira (cenário 6), ainda com um crescimento anual no preço das terras de 10%, as taxas internas de retorno calculadas foram de 2,53%, 1,00% e -0,11% para pequenos, médios e grandes proprietários, respectivamente. Considerando a taxa de 20% de crescimento anual nos preços da terra, as taxas internas de retorno foram para pequenos, médios e grandes proprietários, com venda de madeira (cenário 7), de 7,27%, 7,10% e 6,51%; com venda parcial de madeira (cenário 8) de 6,45%, 5,66% e 5,26%; e sem a venda da madeira (cenário 9) de 5,63%, 4,41% e 4,06%. Nestes cenários a atividade já começa a apresentar viabilidade, especialmente quando se consideram os retornos oriundos da venda da madeira. E nas análises com taxas de crescimento de preço de terra anual de 30%, as taxas internas de retorno para pequenos, médios e grandes proprietários, foram de 11,23%, 11,41% e 11,56%, respectivamente, com venda de madeira (cenário 10); de 10,52%, 10,10% e 10,41% com venda parcial de madeira (cenário 11); e 9,81%, 8,92% e 9,31% sem a venda de madeira (cenário 12). Na análise do “cenário atual”, o percentual médio anual de evolução do preço das terras de mata ficou em 24,94%, enquanto que para as pastagens ficou em 11,71%. Com base nas taxas reais calculadas, e considerando também que não há venda de madeira, situação que acontece na maioria das propriedades do Apuí, a TIR para pequenos, médios e grandes proprietários ficou em 3,27%, 1,90% e 2,78%, respectivamente. Analisando os resultados é possível concluir que para o caso do Apuí, uma nova fronteira, somente com a expectativa no crescimento do preço da terra (mata e pastagem) em taxas iguais ou superiores a 20% ao ano, as taxas internas de retorno da pecuária começam a ficar atrativas, acima de 5%. Essa expectativa de aumento nos preços da terra, motivadora da crescente ocupação na região, pode ser entendida como especulação de terras!