Um século de caça comercial na Amazônia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Antunes, André Pinassi
Orientador(a): Venticinque, Eduardo Martins
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Programa de Pós-Graduação: Ecologia
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Link de acesso: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/12254
http://lattes.cnpq.br/8805424373774826
Resumo: A Amazônia é uma das últimas fronteiras aonde ainda são possíveis a conservação e o uso sustentável da fauna silvestre. Nosso conhecimento sobre os fatores que determinam a resiliência das espécies cinegéticas à caça advém principalmente de estudos pontuais, seja no espaço, como no tempo. Utilizando de um vasto acervo documental inédito sobre o comércio de peles na Amazônia centro-ocidental brasileira, realizamos o primeiro estudo cobrindo ampla escala temporal e regional, e elucidamos, em três capítulos, diversas lacunas do conhecimento acerca desse episódio da ecologia histórica Amazônica. No primeiro capítulo, publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi (Ciências Humanas) em 2014, descrevemos, como importantes eventos políticoeconômicos mundiais influenciaram o comportamento da demanda por peles silvestres na Amazônia. Esse comércio aumentou sua escala logo após ao colapso do preço da borracha (1912), atingiu um pico entre meados da década de 1930 e a Segunda Guerra Mundial, declinou levemente após o término do conflito, e voltou a crescer durante as décadas de 1960-1970, até as publicações da Lei da Fauna (1967) e da CITES em 1975, que em teoria deveriam extinguir o comércio, mas que se manteve enquanto houve demanda internacional. Descrevemos ainda que o comércio de peles esteve totalmente inserido no modelo econômico regional denominado de aviamento. Uma vez conhecidas as tendências gerais do comércio de peles na Amazônia, analisamos, no segundo capítulo, séries temporais de 66 anos para 10 espécies-alvo usando regressões spline, com o objetivo de verificar a resiliência das espécies. Mais do que parâmetros ecológicos padrões na predição da resiliência, como, por exemplo, a taxa intrínseca de crescimento populacional (rmax), o acesso às áreas de caça parece ter sido o principal fator da resiliência das espécies à caça comercial ao longo do século XX. A menor área relativa dos ambientes aquáticos e o acesso facilitado parecem ter determinado o colapso das populações de espécies aquáticas e semi-aquáticas na bacia Amazônica, enquanto que o acesso limitado aos ambientes terrestres deve ter mantido extensos refúgios para a fauna. No terceiro capítulo, usamos registros comerciais da produção de peles silvestres de queixada, caititu e veado-vermelho nas décadas de 1930-1940, em todos os 34 municípios históricos da Amazônia centro-ocidental brasileira. Após a produção ser padronizada pelo número de habitantes nas zonas rurais, como uma forma de controlar diferenças no esforço de caça, torna-se evidente o gradiente leste-oeste na abundância de três espécies de ungulados nesse região. Esse padrão espacial encontra-se mais correlacionado com a fertilidade do solo nesses municípios do que com a fatores climáticos, como pluviosidade anual ou coeficiente de sazonalidade. No entanto, a intensidade de caça ultrapassa o efeito da fertilidade do solo na predição da resiliência das espécies mais vulneráveis à caça comercial, como o queixada. A relevância dos nossos resultados demonstra a importância da ecologia histórica recente para o debate sobre a influência humana pretérita na Amazônia, além de incrementar tanto nosso entendimento sobre a variável capacidade de explotação dos recursos naturais na Amazônia, como nossas ferramentas na aplicação de ações para a conservação e manejo da biodiversidade.