A influência das alterações climáticas na ocorrência de leishmaniose visceral no Brasil

• Ano de defesa: 2019
• Autor(a) principal: Santos, Renata Josephina dos
• Orientador(a): Almeida, Andréa Sobral de
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Link de acesso: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/48809

A leishmaniose visceral (LV) é uma doença infecto-parasitária grave transmitida por vetores. É uma doença tropical negligenciada, típica de países pobres de regiões tropicais e subtropicais que afeta especialmente populações marginalizadas. Estima-se que mais de 616 milhões de pessoas vivam em áreas endêmicas sob risco de infecção e mais de 20 mil pessoas morram anualmente em consequência da LV. Apesar de amplamente estudada, novos fatores têm alterado a incidência e a distribuição da doença, incluindo as alterações no clima. O crescimento populacional, a globalização, a urbanização, e os padrões capitalistas de consumo tem provocado diversas mudanças climáticas e ambientais. As mudanças climáticas trazem consequências diretas e indiretas para a saúde humana. As doenças transmitidas por vetores, como a LV, pertencem a um dos grupos de doenças indiretamente afetadas. A vulnerabilidade social também é outro fator influente, pois as condições precárias de moradia, estado nutricional e imunológico deficientes aumentam a exposição a doença e dificultam a resposta a enfermidade. Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática sobre a relação entre a LV humana (LVH), mudanças climáticas, variáveis ambientais e meteorológicas e a vulnerabilidade social, bem como, realizar um estudo ecológico para avaliar a influência das alterações climáticas na ocorrência da LVH nos municípios brasileiros. Para isso foi realizada a modelagem de nicho ecológico da LV com o uso do método de aprendizado de máquinas MaxEnt. Mapas temáticos foram elaborados para comparar os resultados dos modelos e analisar a influência das alterações climáticas na ocorrência da LVH. Os modelos criados tiveram um bom desempenho AUC, superior a 0,8. As principais variáveis de contribuição foram a umidade relativa do ar, a precipitação anual e a amplitude térmica, respondendo por pelo menos 78% da influência entre as variáveis estudadas. Os resultados dos modelos coincidiram, de uma forma geral, com os pontos de ocorrência da LV. Com este estudo sugere-se que, com as alterações climáticas, as condições estão cada vez mais favoráveis para a ocorrência da LVH nas regiões Centro-oeste, Sudeste, Sul e extremo norte da região Norte, permanecendo também favoráveis no Nordeste. Este estudo demonstra que a LV pode ser uma doença sensível ao clima e consequentemente, pode ser afetada por mudanças nas variáveis climáticas. Destaca-se ainda a importância das mudanças/alterações climáticas na área da saúde coletiva, principalmente para doenças transmitidas por vetores. Além do papel fundamental da modelagem de nicho ecológico por meio do método de aprendizado de máquinas MaxEnt e do SIG para a análise de risco, monitoramento, prevenção e planejamento de políticas públicas. Quanto ao impacto e/ou inovação desse trabalho do ponto de vista teórico-acadêmico e também para os serviços ressalta-se que a abordagem proposta faz parte de uma etapa de um estudo que vem sendo desenvolvido pelas orientadoras e seu resultado colabora para um entendimento de forma mais detalhada as respostas da doença às mudanças climáticas.