Arte e potencialização de sentidos: atravessamentos no ensino

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Bagatini, Fabrício Agostinho lattes
Orientador(a): Schuck, Rogério José lattes
Banca de defesa: Schneider, Paulo Rudi, Seibt, Cezar Luis, Martins, Silvana Neumann, Schwertner, Suzana Feldens
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: PPGEnsino;Ensino
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
CH
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10737/2914
Resumo: É necessário avisar. Este não é um roteiro de escrita científica normal. Segue linhas outras. Na arte do escrever, não há um certo e um errado; há o escrever. Há um fio de sentido – desde o que se refere ao significado, até o que perpassa o sentir. A escrita desta tese dá-se em forma de peça teatral. É no espaço teatral que ocorre o encontro do artista, da tese e do expect-actor (aquele que observa e age ao mesmo tempo). É no espaço entre o palco e a plateia que ocorre o diálogo, a fusão de horizontes e a compreensão do que está sendo dito. Mas, o que é encenado nos diferentes atos que compõem esta tese? Neles, falamos sobre a arte e a potencialização de sentidos no ensino. E, para contemplar tal temática, partimos de dois questionamentos: Como a arte vem contribuindo nos processos de ensino? Como a arte potencializa sentidos no ensino? Para responder a essas questões, definimos, como objetivo geral, investigar como a arte potencializa sentidos no ensinar. Cabe mencionar que desenvolvemos uma pesquisa qualitativa que teve, como metodologia principal, a Hermenêutica (GADAMER, 2015). Como primeiros objetivos específicos, buscamos investigar o conceito de arte na contemporaneidade e conceituar a arte a partir da perspectiva hermenêutica de Hans-Georg Gadamer. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica centrada nesse filósofo alemão. Constatamos, a partir das leituras realizadas, que a arte está na vida do homem desde os seus primórdios, através de diferentes expressões: desenho, música, pintura, teatro, dança, comédia, drama. E que é da alçada da subjetividade, pois cada um possui uma percepção e uma compreensão a respeito do que é arte e da importância que ela tem para a humanidade. Além disso, constatamos que não somos nós que interpretamos a arte à luz de nossos interesses; é ela que se dá a interpretar na medida em que nos questiona. No seu constante movimento autopoiético, nunca é a mesma para quem diante dela se coloca. Aliás, mesmo que a contemplemos inúmeras vezes, sempre teremos um olhar diferente, e, a cada olhar, ela nos abrirá um ou múltiplos sentidos. Para compreender o que a obra de arte tem a nos dizer, temos de estar abertos ao diálogo que trava conosco, pois é por meio dele que constatamos a sua verdade, o seu jogo e movimento. Outro objetivo proposto foi averiguar as concepções prévias acerca de arte dos professores e alunos de uma escola da rede pública estadual de Capitão/RS, para verificar como as diferentes expressões artísticas vêm contribuindo na potencialização de sentidos no ensino. Para tanto, aplicamos um questionário dissertativo e aberto com 52 alunos do Ensino Médio (1o ao 3o ano) e nove professores da referida escola. Analisamos as respostas com base na Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZE, 2016) e a partir de quatro categorias, a saber: No Vale da Saudade, perceptos da arte; No Vale da Procura, a arte como presença na vida e no espaço escolar; No Vale do 18 Amor, a arte auxiliana compreensão dos conteúdos e instauraçãodesentidos; e No Vale do Conhecimento, a potencialização de sentidos. Mediante essas categorias, percebemos que a arte está presente na vida dos alunos e professores, auxiliando na formação da subjetividade, seja a partir do sentir ou das singelezas do cotidiano e do ser. Além disso, entramos em contato com as diferentes percepções de alunos e professores sobre o que é a arte, sobre sua importância e sua presença na vida e no espaço escolar. Também observamos como a arte auxilia na compreensão dos conteúdos e na instauração e potencialização de sentidos. Ainda buscamos desenvolver oficinas de arte com professores da rede pública estadual do município de Capitão/RS, denominadas Olhicriarte, uma junção dos termos olhar+criar+arte. Realizamos duas oficinas - uma de teatro e outra de escrita enquanto arte - por meio das quais os professores puderam experienciar a arte e buscar o autoconhecimento. As percepções dessas vivências foram relatadas, pelos participantes, em diários denominados “Diários Vivenciais”. Mediante a leitura de um total de 10 diários, verificamos que o experienciar não é algo objetivo ou que possa ser (re)produzido; ao contrário, é uma vivência que perpassa o corpo de cada um, de forma única e inexplicável. Constatamos que, quando o professor olha e cria a partir da arte, ele se torna artista, e, sendo professor artista, é capaz de lidar com os problemas que ocorrem na sua prática pedagógica e está em constante processo de aprendência (ASSMANN, 1998). Por último, procuramos realizar uma análise da práxis pedagógica no que tange à presença das artes numa atividade interdisciplinar entre as áreas das Ciências Humanas e das Linguagens. Para tanto, levamos em consideração um trabalho desenvolvido a partir do filme “Minha querida Anne Frank”, em que desafiamos os alunos do 2o e 3o Anos do Ensino Médio a escreverem, em duplas, um diário contendo relatos, poesias e desenhos relativos a temas do filme. Ao todo, foram escritos 24 diários, os quais demonstraram que trabalhar com arte nos processos de ensino propicia, ao aluno, outra compreensão sobre o que está sendo trabalhado, bem como possibilita que ele exercite a empatia e vivencie o contexto histórico, na medida em que horizontes são fundidos e tradições são compreendidas, mas, acima de tudo, serve de fuga e de rompimento do cotidiano. Ao contemplar a arte na sua práxis pedagógica, o professor demonstra saber que uma aula não precisa ser idêntica à outra e que cada uma contém, em si, a multiplicidade, os devires, as variáveis e variantes do próprio existir. Por fim, considerando os resultados alcançados, é possível afirmar que esta tese comprovou que a arte pode e deve se fazer presente na práxis pedagógica, pois potencializa sentidos e permite olhares outros, diferentes dos existentes até então. A arte nos leva a pensares inexistentes, à compreensão de quem somos e do meio no qual estamos inseridos. Ela permite que sejamos críticos, questionadores. Ela nos desafia a enfrentar nossos medos, a demonstrar os sentimentos que mantemos, muitas vezes, guardados em nosso ser. Enfim, no momento em que há uma experienciação com a arte e a partir dela, há o processo criativo, há a possibilidade de olhicriar, há apropriação e potencialização de sentidos.