A atribuição de cultura a primatas não humanos: a controvérsia e a busca por uma abordagem sintética

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Pagnotta, Murillo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-25072012-092135/
Resumo: A separação histórica entre as ciências naturais e as ciências sociais fundamenta-se na distinção ontológica entre os domínios da natureza e da cultura, e na ideia moderna de que a condição (cultural) humana corresponde a um afastamento radical dos outros animais. Porém, somando-se a outros críticos insatisfeitos com essa visão dualista, muitos estudiosos do comportamento animal tem utilizado o termo cultura em referência a não humanos, provocando uma controvérsia que ainda parece longe de um consenso. Neste trabalho, investiguei o sentido da noção de cultura para os antropólogos e o uso etológico (limitando-nos aos primatas) do termo, com os objetivos de compreender melhor a controvérsia e identificar caminhos possíveis na busca por um consenso. Na Antropologia, a noção moderna de cultura se desenvolveu do século XIX até os anos 1950. Cultura passou a ser vista como um fenômeno emergente exclusivamente humano, dependente de nossa capacidade de utilizar símbolos e correspondendo aos padrões e normas comportamentais, artefatos, ideias e, principalmente, valores que os indivíduos adquirem no processo de socialização. Mais recentemente, essa concepção de cultura, e a epistemologia dualista que a sustenta, tem sido alvo de críticas e intenso debate. Ainda que não compartilhem um arcabouço teórico comum, virtualmente todos os antropólogos contemporâneos concordam que o comportamento cultural humano é fundamentalmente simbólico. A discussão recente em torno da atribuição de cultura a primatas não humanos remonta aos estudiosos japoneses que, na década de 1950, acompanharam a dispersão de uma nova técnica de manipulação de alimento em Macaca fuscata, e descreveram o fenômeno com os termos pré-cultura, subcultura e cultura infra-humana. A partir da década de 1960, as pesquisas de campo com populações selvagens e as evidências experimentais de aprendizagem em contexto social levaram ao estabelecimento da Primatologia Cultural e os prefixos foram abandonados. Entre primatólogos, o termo cultura se refere a padrões comportamentais que dependem de um contexto social para se desenvolver, e que podem atravessar gerações. Eu sugiro uma estratégia analítica que distingue os motivos de discordância entre descrições, explicações, teorias e visões de mundo, e argumento que a controvérsia é complexa e inclui discordâncias entre visões de mundo sem, no entanto, dividir os envolvidos em grupos homogêneos (digamos, primatólogos contra antropólogos). Por conta disso, a redefinição e o uso que os primatólogos fazem do termo acabam por manter ilesos os fundamentos da dicotomia natureza/cultura, o que pode explicar, parcialmente, a manutenção da controvérsia. Concluo que o diálogo entre os dois lados da fronteira será imprescindível para os pesquisadores que estiverem interessados em buscar uma abordagem consensual. É possível alcançar um consenso, mas a busca por uma abordagem sintética do comportamento animal que inclua os humanos deverá levar ao abandono ou reconstrução das dualidades natureza/cultura, inato/adquirido e gene/ambiente, e também da atribuição de primazia causal aos genes. Além disso, é necessário discutir a fundo sobre como incluir a questão do simbolismo e do significado em uma perspectiva comparativa