Masculinidades à margem: tornar-se homem na periferia brasileira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Barros, Betina Warmling
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-06112024-165543/
Resumo: Diante de homens heterossexuais, é comum que o gênero seja uma dimensão secundária na análise sociológica, como se o ser social emergisse do vazio, como se fosse descorporificado. Além disso, homens jovens moradores das periferias das grandes cidades do país costumam ser estudados apenas quando são envolvidos com o mundo do crime. Mas quem são, o que querem e como vivem os homens jovens na periferia brasileira não-envolvidos? Ou ainda: quais são e como são incorporadas as práticas de gênero que compõem as masculinidades desses jovens periféricos? Essa é a pergunta que guiou a presente pesquisa. Para respondê-la, articulo a teoria de gênero de Connell (2009) e a sociologia do ator plural de Lahire (2002), o que me levou a estabelecer as disposições das masculinidades hegemônicas na periferia brasileira e compreender como sujeitos na transição para a vida adulta são socializados e incorporam seu gênero. O trabalho empírico foi realizado na vila Bom Jesus, bairro periférico na cidade de Porto Alegre - RS. A metodologia da pesquisa compreende: (a) 10 grupos focais formados por adolescentes do gênero masculino entre 15 e 18 anos moradores do bairro Bom Jesus; (b) 26 entrevistas de tipo trajetória de vida conduzidas com 16 interlocutores, entre adolescentes e jovens de 15 a 29 anos moradores do mesmo local; (c) coleta e análise das postagens na rede social Instagram produzidas tanto pelos interlocutores como por outros usuários com as mesmas características etárias, de gênero e de moradia. Procedimentos próprios da etnografia também são mobilizados como forma de contextualizar e amarrar os dados obtidos pelas demais técnicas. O argumento síntese da pesquisa dispõe que adolescentes do gênero masculino na periferia experimentam uma transição precária e acelerada, na medida em que não podem usufruir do tempo necessário para efetivar os processos transitórios (como estudar, namorar, ir aos \'bailes\'), sob risco de se aproximar das práticas de gênero dos envolvidos. As mães dos meninos são agentes centrais no processo de acelerar a transição, transmitindo o desejo de que seus filhos incorporem, o quanto antes, a masculinidade do homem trabalhador. Viver essa transição na periferia ocorre a partir de três grupos de trajetórias para a incorporação da masculinidade: os aprendizes, os empreendedores e os questionadores. Para cada uma delas, nota-se uma forma de aprender, atualizar ou questionar a sua participação no mundo do trabalho e na ordem de gênero patriarcal. Na primeira, incorpora-se o esperado; na segunda, modifica-se sem alterar a estrutura e; na terceira, frestas são abertas, mas a escassez dos capitais dificulta transformações mais estruturais. No nível da sociedade, a ordem patriarcal se rearranja para continuar organizando a vida social daqueles que, mesmo homens, mais perdem do que ganham sob seu mandato