Estrutura genética e fenologia de espécies raras de Couratari spp. (Lecythidaceae) na Amazônia Central

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1996
Autor(a) principal: Lepsch-Cunha, Nadja
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11142/tde-20191218-152834/
Resumo: Com o objetivo de quantificar a variação genética e o sistema reprodutivo de espécies arbóreas tropicais de baixa densidade e de discutir suas implicações quanto à conservação genética, estudamos uma população de cada uma das espécies, Couratari multiflora (J.E.Smith) Eyma e Couratari guianensis Aublet, ambas de baixa densidade na área de estudo, utilizando a técnica de eletroforese de isoenzimas. Somente C. multiflora foi estudada quanto ao sistema reprodutivo, por ter produzido sementes durante este trabalho. As populações estão localizadas em uma das reservas de mata contínua do Projeto Dinâmica Biológica dos Fragmentos Florestais, PDBFF, cerca de 100 km de Manaus, AM, Amazônia Central. Na Revisão Bibliográfica da dissertação discutimos as diferentes formas de raridade na floresta tropical e incluímos cada uma das espécies em dois diferentes tipos de raridade: espécies que sempre apresentam-se com baixa densidade (C. multiflora) e espécies que ora são raras ora mais comuns, conforme sua distribuição geográfica (C. guianensis). No Ítem de Resultados tratamos da variabilidade genética intrapopulacional das duas espécies que resultou em: 1. A área total do levantamento compreendeu 385 ha, com 41 e 27 indivíduos considerados adultos continuamente mapeados de C. multiflora e C. guianensis, respectivamente. A marcação aleatória de 26 jovens da segunda espécie e a produção de frutos da primeira (progênies), permitiram a análise das estimativas da variabilidade genética dessas duas categorias, além dos adultos. 2. Foram analisados 7 ou 8 locos isoenzimáticos, conforme categoria de tamanho. 3. O número médio de aleIos por loco das progênies e adultos de C. multiflora foram iguais a 3,57 e 3,25, o polimorfismo, 85,71 e 100%, as heterozigosidades esperadas e observadas média iguais a 0,429-0,380 e 0,431-0,359, e os índices de fixação médios (Fm), 0,114 e 0,176, respectivamente conforme categoria. Para C. guianensis, jovens e adultos apresentaram estimativas iguais a 3.00 e 2,75 para o número médio de aleIos por loco, 100% de polimorfismo para ambas categorias, as heterozigosidades esperadas e observadas médias iguais a 0,415-0,258 e 0,420-0,203, e os índices de fixação médios (Fm) foram 0,377 e 0,518, respectivamente. O coeficiente de endogamia para C. guianensis e os valores da variação genética para ambas espécies foram altos quando comparados a outras espécies arbóreas tropicais. No Ítem 2 de Resultados tratamos da fenologia reprodutiva e potencialidade de cruzamentos no tempo e espaço para C. multiflora. A floração foi longa (6 meses), com o pico durante a estação chuvosa e o da frutificação, durante a estação seca. Cerca de 70 % das árvores adultas floresceram, mas somente 41 % tiveram alta produção de flores, 46% frutificaram, 23% foram vistas com frutos maduros e somente 10% delas foram coletadas para o estudo do sistema reprodutivo devido à alta predação dos frutos por animais, com possibilidade de aborto de frutos imaturos. As medianas das distâncias de indivíduos sincrônicos ficaram entre 600-1000 m durante toda a floração e, dependendo do método de quantificação utilizado, as medianas do número de indivíduos sincrônicos por data fenológica resultaram em 14-17,5 indivíduos por um dia, 13 por 15 dias e 3-13 por 30 dias. Em 50 % dos casos, 6-7 indivíduos foram sincrônicos até 1000 m, com esses valores permanecendo em geral constantes durante toda a floração. No Ítem 3 de Resultados tratamos do sistema reprodutivo de C. multiflora resultando em uma taxa de cruzamento multilocos igual a tm = 0,953 (0,040) e a média dos locos individuais, ts = 0,968 (0,133), com um padrão de espécie alógama. A população em conjunto resulta de acasalamentos aleatórios, com apenas 2 dos 8 locos com desvios significativos do EHW. Não ocorreu heterogeneidade nas frequências de pólen e óvulo, no entanto, o "pool" de pólen foi diferenciado entre as famílias. A partir do conjunto de resultados acima juntamente com os dados da fenologia, concluímos ser a representatividade pequena de árvores maternais (4) e a variação da época e duração de florescimento de cada árvore, com duas delas florescendo no final da floração, a causa dessa diferenciação. A nível de heterozigosidade esperada essas duas espécies são muito semelhantes, diferindo quanto à ocorrência de endogamia para C. guianensis. Os resultados sugerem que essas duas populações tenham histórias de vida diferentes, mas estão adaptadas à condição de baixa densidade. No caso de C. guianensis, isto é sugerido pela manutenção da alta heterozigosidade esperada e a ocorrência de endogamia, desta forma, espera-se que exista pouca carga genética e consequentemente maior adaptação a oscilações na densidade populacional. Para C. multiflora, as taxas de cruzamento próximas a um e as distâncias calculadas entre os indivíduos sincrônicos evidenciam vôo a longas distâncias pelos polinizadores, sendo que distâncias de 1000 m entre árvores não impede fluxo de pólen. Esses resultados confirmam que esta última espécie ajusta-se à categoria das espécies uniformemente raras e, neste caso, requerem grandes áreas para sua conservação. Para C. guianensis, há necessidade de se conhecer sobre seu sistema reprodutivo para maiores sugestões. Se o sistema reprodutivo estiver adaptado a cruzamentos a longas distâncias como C. multiflora, a espécie deve suportar mais estrangulamentos populacionais e/ou fragmentação, desde que a variabilidade seja mantida pela conecção de populações.