Participação do sistema endocanabinóide nas respostas comportamentais, hormonais e neuronais induzidas pela sobrecarga salina

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Vechiato, Fernanda Maria Veanholi
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17134/tde-10082015-103622/
Resumo: O sistema endocanabinóide (eCB) tem sido reconhecido como um importante modulador da homeostase energética e recentemente estudos o apontam como um possível integrador da homeostase hidroeletrolítica. Estudos recentes do nosso laboratório demonstraram a participação do receptor canabinóide do tipo 1 (CB1R) no controle da secreção neurohipofisária em resposta a expansão hipertônica do volume extracelular. Dessa forma, o presente trabalho visou esclarecer a participação do sistema eCB, particularmente do CB1R, nas respostas neuronais, neuroendócrinas e comportamentais induzidas pela sobrecarga salina de 4 dias (SS). Uma vez que os animais em SS apresentam hipofagia induzida pela hiperosmolalidade, buscou-se avaliar as vias de integração do controle da homeostase energética e do balanço hidroeletrolítico por meio da introdução de um grupo em dieta pareada (pair fed, PF). De forma a investigar a hipótese acima, utilizou-se como ferramenta farmacológica o agonista seletivo CB1R, araquidonil-2-cloroetilamida (ACEA - 0,1g/5L), administrado por via intracerebroventricular (icv). Inicialmente, nosso trabalho mostrou que a SS promoveu aumento da expressão de CB1R tanto nos núcleos supra-óptico (NSO) e paraventricular (NPV) do hipotálamo quanto em estruturas da lâmina terminal [órgão subfornicial (SFO), o órgão vasculoso da lâmina terminal (OVLT) e o núcleo pré-óptico mediano (MnPO)]. Tais observações foram reforçadas pela análise microscópica destas regiões cerebrais por imunofluorescência, que evidenciou aumento da imunomarcação para CB1R no NPV, NSO e SFO em animais submetidos a SS. Estes resultados também mostraram que a maioria dos terminais pré-sinápticos CB1R-positivos estão localizados predominantemente na porção ventral do NSO, na qual predominam neurônios vasopressinérgicos. Os dados mostram ainda que todas as respostas induzidas pela SS foram revertidas após a reintrodução dos líquidos (RL, água e NaCl 0,3M). Já no grupo PF, não foram observadas alterações na expressão de CB1R em nenhuma das áreas avaliadas. No entanto, após a RL, os animais PF apresentaram hipoosmolalidade plasmática e aumento da expressão de CB1R na LT, sendo este último efeito aparentemente mediado por um aumento da expressão deste receptor no SFO. Em animais normoidratados, a administração central de ACEA produziu um aumento significativo na ingestão alimentar, sendo esta resposta ausente nos animais submetidos a SS, apesar do aumento da expressão de CB1R no hipotálamo verificada neste grupo. Entretanto, o pré-tratamento com ACEA foi capaz de potencializar a ingestão de água induzida pela SS, não produzindo efeitos significativos sobre este parâmetro no grupo PF. Este estudo demonstrou ainda que a SS não alterou as concentrações plasmáticas de angiotensina II (ANGII), porém promoveu aumento signficativo nas concentrações plasmáticas de corticosterona, vasopressina (AVP) e ocitocina (OT), além de diminuir a secreção de peptídeo natriurético atrial (ANP). Em animais submetidos a SS, o prétratamento com ACEA potencializou a secreção de corticosterona e preveniu o aumento da secreção de AVP e OT. Por outro lado, não foram observados efeitos da administração de ACEA sobre a secreção de ANP e ANGII induzida pela SS. Após a RL, o grupo SS apresentou normalização das concentrações plasmáticas hormonais, não sendo observados quaisquer efeitos da administração de ACEA nestas condições experimentais. No grupo PF, por sua vez, após a RL foi observada diminuição na secreção de OT e aumento nas concentrações plasmáticas de ANGII, efeitos estes não alterados pelo pré-tratamento com ACEA. Em conjunto, nossos dados sugerem que o CB1R participa ativamente das respostas homeostáticas comportamentais e neuroendócrinas desencadeadas pela SS, sendo estas respostas especificamente relacionadas ao controle da homeostase hidrossalina e não secundárias à hipofagia induzida pela hiperosmolalidade. Desta forma, conclui-se que a participação do CB1R na homeostase hidroeletrolítica ocorre em paralelo e independentemente da modulação exercida por este receptor sobre a homeostase energética.